segunda-feira, dezembro 02, 2024

SUÍTE 10

A chuva escorria preguiçosa pelas janelas do Hotel Esplendor. Lá dentro, no silêncio opressivo da suíte 10, uma cadeira antiga, de madeira desgastada, parecia fora de lugar. No entanto, ela era o ponto central, um objeto que carregava mais histórias do que seus ocupantes poderiam imaginar. O ar parecia pesado, como se as paredes daquele quarto guardassem segredos que o tempo não ousava revelar.

Ele era um viajante silencioso, carregando em si histórias e lembranças de anos. Ela, uma mulher de passos calculados, havia cruzado oceanos em busca de algo que nem sabia definir. Encontraram-se ao acaso — ou assim acreditaram — no saguão do hotel, trocando olhares carregados de mistério e perguntas. A atração era inevitável, como dois polos magnéticos incapazes de resistir.

Na suíte 10, sentados frente a frente, a cadeira parecia pulsar com uma energia invisível. Era mais do que um móvel: um ponto de convergência. Não era apenas a eletricidade estática de um toque acidental; era como se o tempo parasse, o espaço se curvasse, e eles compartilhassem um pensamento, um único desejo.

Eles não precisavam de palavras. Um eco interno os conectava, fazendo o silêncio vibrar com um peso surreal. Sentiam o universo os pressionando, forças avassaladoras tentando sufocar aquele momento. As paredes da suíte 10 pareciam tremer com sussurros, vozes distantes que os incitavam a desistir, a voltar ao caos do mundo lá fora. Mas a cadeira... a cadeira era diferente.

Sentados nela, a energia os envolvia, como se fossem duas partes de uma mesma alma perdida tentando se encontrar novamente. Eles sentiam o peso do universo ao seu redor, mas também a luz crescente que emanava de si mesmos. Era uma batalha entre o que podiam ser e o que o mundo insistia em dizer que eram.

Quando ele segurou as mãos dela, o quarto inteiro pareceu respirar. Era como se tudo tivesse vida: as paredes, o chão, a cadeira. O passado e o futuro se dobravam, e, naquele instante, eles entenderam algo fundamental: precisavam gritar. Precisavam viver. Precisavam deixar a máscara cair e abraçar a verdade do que eram.

A cadeira, agora iluminada por uma luz que parecia vir de lugar nenhum, sussurrava algo incompreensível, mas não para eles. Era um abastecimento de energia, um recomeço. E ali, naquele instante, souberam que nada poderia detê-los. O desejo de vida, de amor, de plenitude, era avassalador demais para ser sufocado.

De pé, abraçados, lançaram um grito primal, libertador. Não era apenas um som; era a vida rasgando o silêncio. O hotel tremeu, as luzes piscaram, e tudo ficou quieto novamente. A cadeira da suíte 10 estava lá, como sempre, mas agora parecia vazia. Eles tinham sido preenchidos com algo maior do que poderiam compreender. E, enquanto caminhavam pelo corredor do hotel, sabiam que nunca mais seriam os mesmos. A cadeira havia feito sua parte: eles haviam renascido.

 

 "Escritoras Contemporâneas"

História narrativa: Lótus Negra

Arte e design: Charles Aquino

Ilustração criada com IA, inspirada no conteúdo do texto.