A chuva escorria
preguiçosa pelas janelas do Hotel Esplendor. Lá dentro, no silêncio opressivo
da suíte 10, uma cadeira antiga, de madeira desgastada, parecia fora de lugar.
No entanto, ela era o ponto central, um objeto que carregava mais histórias do
que seus ocupantes poderiam imaginar. O ar parecia pesado, como se as paredes
daquele quarto guardassem segredos que o tempo não ousava revelar.
Ele era um
viajante silencioso, carregando em si histórias e lembranças de anos. Ela, uma
mulher de passos calculados, havia cruzado oceanos em busca de algo que nem
sabia definir. Encontraram-se ao acaso — ou assim acreditaram — no saguão do
hotel, trocando olhares carregados de mistério e perguntas. A atração era inevitável, como
dois polos magnéticos incapazes de resistir.
Na suíte 10,
sentados frente a frente, a cadeira parecia pulsar com uma energia invisível.
Era mais do que um móvel: um ponto de convergência. Não era apenas a eletricidade estática de um toque
acidental; era como se o tempo parasse, o espaço se curvasse, e eles
compartilhassem um pensamento, um único desejo.
Eles não
precisavam de palavras. Um eco interno os conectava, fazendo o silêncio vibrar
com um peso surreal. Sentiam o universo os pressionando, forças avassaladoras
tentando sufocar aquele momento. As paredes da suíte 10 pareciam tremer com
sussurros, vozes distantes que os incitavam a desistir, a voltar ao caos do
mundo lá fora. Mas a cadeira... a cadeira era diferente.
Sentados nela, a
energia os envolvia, como se fossem duas partes de uma mesma alma perdida
tentando se encontrar novamente. Eles sentiam o peso do universo ao seu redor,
mas também a luz crescente que emanava de si mesmos. Era uma batalha entre o
que podiam ser e o que o mundo insistia em dizer que eram.
Quando ele
segurou as mãos dela, o quarto inteiro pareceu respirar. Era como se tudo
tivesse vida: as paredes, o chão, a cadeira. O passado e o futuro se dobravam,
e, naquele instante, eles entenderam algo fundamental: precisavam gritar.
Precisavam viver. Precisavam deixar a máscara cair e abraçar a verdade do que
eram.
A cadeira, agora
iluminada por uma luz que parecia vir de lugar nenhum, sussurrava algo
incompreensível, mas não para eles. Era um abastecimento de energia, um
recomeço. E ali, naquele instante, souberam que nada poderia detê-los. O desejo
de vida, de amor, de plenitude, era avassalador demais para ser sufocado.
De pé, abraçados,
lançaram um grito primal, libertador. Não era apenas um som; era a vida
rasgando o silêncio. O hotel tremeu, as luzes piscaram, e tudo ficou quieto
novamente. A cadeira da suíte 10 estava lá, como sempre, mas agora parecia
vazia. Eles tinham sido preenchidos com algo maior do que poderiam compreender.
E, enquanto caminhavam pelo corredor do hotel, sabiam que nunca mais seriam os
mesmos. A cadeira havia feito sua parte: eles haviam renascido.
"Escritoras Contemporâneas"
História narrativa: Lótus Negra
Arte e design: Charles Aquino
Ilustração criada com IA, inspirada no conteúdo do texto.