sexta-feira, outubro 25, 2019

MEMORIAL MINEIRINHO

Marcelo Augusto de Faria Matos
*05/08/1930  +02/09/1993







ENTREVISTA COM MINEIRINHO – JORNAL PANORAMA ITAUNENSE
FALA, MINEIRINHO!

P — Você poderia começar falando da sua vida, sua biografia mais ou menos?

M — Eu fico até com vergonha de falar a minha idade …. Nasci em 1930, no dia 5 de agosto, aqui em Itaúna. Lá no Mirante, em frente ao grupo “João Dornas”. Sou filho de Serjobes Augusto de Faria — escrivão de paz aqui na terra — e de Aureslina Matos de Faria, pais de oito filhos; um é falecido. É uma família de gente muito alegre.

P — Seus pais, eles eram também alegres?

M — Também! Minha mãe era pianista do Clube Dr. Vital, ela era carioca! Meu pai era muito alegre, mas era itaunense mesmo.

P — A vocação para artista, então, é da família né?

M — É …. Teve muita gente da minha família que já participou de teatro. Por exemplo: Dona Adalgisa Matos, meu pai que era ponto do teatro, no tempo do seu Lique; tinha também o Mário Matos, o Sílvio de Matos. E eu senti essa vocação aos nove anos de idade. Antes até! Já no grupo escolar eu participava das festas infantis. Era até convidado por outras salas para participar.

Eu era um capeta em figura de gente, mas graças a Deus, cresci. Hoje eu sou um homem ajuizado, não parece? Acontece que apareceu um seminarista aqui por Itaúna que mexia com teatro, e me convidou para entrar numa peça de variedades. Cresci e fui fazendo comédia, outras peças. O nosso grupo de teatro chamava Grupo Teatral Ita e a gente se apresentava no Cine Bagdad, lá na Rua Silva Jardim; onde é, hoje, aquela mobiladora. Apresentamos também no Cine Rex.

P — Quer dizer, que naquela época já existia um movimento de teatro em Itaúna?

M — Sim, já existia. E tinha uma turma boa. Tinha o Totonho Corradi, tinha o Zé do Dui, o Tucha que era um artista bacana, o seu Lique, pai do Piu que foi um grande teatrólogo, a Hélida Beghini, Jandira Penido…

P — No palco, Mineirinho, representando uma peça, você já deu bandeira?

M — Não …. Eu fazia era muito aso, né? Brincava muito. Teve uma vez que eu e a Hélida Beghini estávamos representando e no papel que a agente fazia tinha que beber cachaça. Botei cachaça de verdade na garrafa e quando a Hélida foi beber …. Aquele nome saiu baixinho, viu?

P — Quem aí do grupo de teatro, que se quisesse mesmo poderia ser um artista nacional?

M — Ah! … Toda turma do “Chica Boa”. A Eleuza Corradi, a Maria Helena Amaral. A gente ensaiava demais! Parece que naquele tempo o povo tinha mais entusiasmo com as coisas.

P — Tinha público para essas peças?

M — Nossa Senhora! Toda peça que a gente levava, a gente tinha que repetir. O cinema era cedido para o teatro. A gente ficava uma semana em cartaz! (Nesse momento chega Didi, a patroa do entrevistado, trazendo uma foto da época). Olha aqui, gente, este é o professor Coutinho, o ensaiador do teatro.

P — No teatro, qual foi o seu maior sucesso?

M — O meu maior sucesso foi a “Chica Boa”. É aquela peça onde eu faço papel de triste, alegre, velho sem vergonha, tudo quanto há.

P — E o seu primeiro papel, qual foi?

M — Nossa Senhora! Eu fazia um papel “triste”: afeminado!

P — Do teatro para o rádio. Como é que foi esse pulo?

M — Eu e o Dante, meu irmão, fomos convidados pelo Nhô Dito para participar do programa “Tarde Sertaneja”, que nessa época já tinha esse nome. Nós falamos que a gente não tinha queda pra aquele tipo de coisa, mas ele respondeu que a gente tinha que ir de qualquer jeito.

Então eu e o Dante fizemos uma roupa caipira — nós éramos alfaiates na época, lá na Praça João Nogueira — e fomos participar. E já vai fazer trinta anos no dia 3 de março, que eu estou com esse programa na Rádio Clube de Itaúna.

P — A Rádio foi fundada e logo depois esse programa …

M —Sete meses depois o programa “Tarde Sertaneja” entrou no ar.





DO TEATRO PARA AS ONDAS DE RÁDIO