UM MÉDICO RECÉM-FORMADO
O
Dr. Hely Nogueira, filho do Sr. Urquiza Nogueira e Dª Ana Dornas Nogueira,
formara-se em medicina em dezembro de 1928, aos 21 anos de idade. Ele instalara o
seu consultório no cômodo da loja, da casa velha do senhor seu pai, exatamente
na esquina da praça [...]. Era uma casa antiga, onde morava o Sr. Urquiza
Nogueira e seus familiares.
Precisamente
na esquina, havia um cômodo de loja que estava vazio, com duas portas de
madeira que davam para a praça e outra para a Travessa 2 de Janeiro, hoje Rua
Coronel Artur Vilaça. Naquele local, o Dr. Hely instalara o seu consultório
para o atendimento aos seus clientes.
Havia
diversos médicos radicados na cidade, que clinicavam aqui há muitos anos; no
entanto, fui procurar um médico recém-formado para o tratamento de minha saúde,
precisamente porque ele se especializara nesse ramo da medicina, que era o
tratamento de moléstias venéreas.
Hoje,
no entanto, de acordo com a sua propaganda em jornais, a sua especialidade era
“distúrbio psicossexuais”.
Ele
atendia no seu consultório e trabalhava também na Casa de Caridade “Manoel Gonçalves”. Era um moço baixo, forte, pela clara, tipo alourado, comunicativo,
muito atencioso e procurava sempre contagiar os seus clientes com o seu
otimismo.
Iniciado
o meu tratamento, ele começou a fazer experiência, uma vez que não lhe era
possível diagnosticar o fundo maligno da minha moléstia. Naquele tempo não
havia os recursos que existem hoje na medicina e por isso, os médicos lutavam
também com as suas dificuldades, para que pudessem descobrir determinada
moléstia.
No
decorrer do tempo, a doença fora-se desenvolvendo em ritmo contínuo, ao invés
de retroceder na sua marcha destruidora, com a aplicação terapêutica do
facultativo. O Dr. Hely me atendia em seu consultório e no hospital também.
Não
havia necessidade de ficar de cama, mas precisava de fazer certo repouso, não
andar muito, o que não acontecia, entretanto, devido à minha impaciência. Ia ao
hospital quase diariamente.
O
médico começara a me aplicar uma injeção muito usada naquela época, para o
tratamento da sífilis, denominada “914”. Aplicação endovenosa e em dosagem
progressiva em centigramas, dia sim, dia não. E no decorrer do tempo, eu
chegara a tomar uma dosagem “cavalar” como se dizia naquele tempo.
Era
uma medicação tão brava, que se por descuido do médico ou do enfermeiro, a
agulha transpassasse a veia e penetrasse no músculo um mínimo que fosse daquele
líquido, o paciente quase morria de dor!
Certa
manhã isto se deu comigo lá no hospital e fora o próprio Dr. Hely quem me
aplicara a injeção, precisamente na sala de curativos. Ele dedicava muita
atenção ao seu trabalho; no entanto, naquela manhã, sucedeu algo de errado,
porque ele deixou que a agulha perfurasse a veia de lado a lado e assim que uma
quantidade mínima do líquido atingiu o músculo do meu braço, eu senti uma dor
intolerável.
O
Dr. Hely percebendo a minha reação, retirou incontinente a agulha da veia. Ato
contínuo, fez-me deitar sobre a mesa e, manejando-a em seguida, me colocou de
cabeça para baixo, enquanto preparava rápido outra seringa com determinada
injeção que me aplicou no músculo, certamente para combater a dor que eu
sentia.
Instantes
depois, ele, movimentara a alavanca da mesa, me deixando deitado em posição
normal. Em seguida, aplicou-me na veia a “914” sem mais nenhum contratempo.
Lembro-me ainda, de que passei maus momentos naquela longínqua manhã.
CONSELHEIROS ITAUNENSES
Na
década de 30 com a posse do Presidente Getúlio Vargas, as Câmaras Municipais
foram substituídas e fechadas (Decreto nº 9.776, de 24 de novembro de 1930), passando
a ser nomeadas de “Conselho Consultivo
Municipal”. Nos anos de 1936 e 1937
houve um retorno das Câmaras, todavia, com curta duração. Com o novo regime
político instaurado e denominado de “Estado Novo”, por imposição do governo,
realiza-se novamente os fechamentos de todos os Legislativos Municipais,
voltando somente no final da década de 40.
O
primeiro Conselho Consultivo Municipal de
Itaúna foi realizado no dia 27 de dezembro de 1930, com os seguintes
integrantes:
João de Cerqueira Lima
|
Empresário
|
Aderbal Victoy de Mello
|
Farmacêutico
|
Manoel Dias Corrêa
|
Empresário
|
Hely
Nogueira
|
Médico
|
Antônio Augusto de Lima Coutinho
|
Médico Cirurgião
|
O MÉDICO E O FOOTING DA PRAÇA
Para
demonstrar o quanto o Dr. Hely foi atencioso para comigo, passarei a relatar
aqui certa ocorrência que se deu relativa a meu tratamento de saúde.
Naquela época, a Praça da Matriz era despida
de qualquer arborização, sem o belo jardim que a ornamenta atualmente. Defronte
à igreja, precisamente onde se acham localizados os bancos do passeio do
jardim, erguia-se sobranceiro o belo “Cruzeiro de Madeira”, cujos braços
pareciam querer apertar num amplexo espiritual as torres do tempo, tendo ainda
a seus pés, uma calçada de pedras superpostas, onde à tardinha, ao pôr do sol,
as pessoas amigas se assentavam para um bate-papo provinciano.
Já naquela época, havia na praça, nas noites
de sábados e domingos, o célebre footing
dos namorados. Era o vaivém constante
pra lá e pra cá. O Dr. Hely Nogueira fazia parte também daquela turma
felizarda, tendo a seu lado a deusa de seu coração, com quem se casaria mais
tarde.
No entardecer de certo domingo, eu foquei
meio apavorado, meio nervoso com a minha doença e não tive a necessária
paciência de esperar pela manhã do dia seguinte, a fim de conversar com o
médico sobre o assunto. Descendo à noitinha, passei pela casa do Dr. Hely, mas
não o encontrei, porque ele já havia saído de casa para encontrar-se com a sua
pequena.
Eu continuei pela praça na companhia de um
amigo, na expectativa de que ele surgisse ali a qualquer momento, ao lado de
sua garota e não me enganei, porque ele apareceu realmente.
Depois que ele deus algumas voltas, enchi-me
de coragem e fui ao seu encontro, pedindo-lhe licença para falar-lhe em
particular. Atenciosamente, ele pediu permissão a sua namorada e veio falar
comigo, um pouco afastado dali.
Falei-lhe então sobre a minha preocupação e
solicitei-lhe o favor de me atender em seu consultório naquele instante.
Delicadamente ele voltou à presença da sua pequena e pediu a esta que fosse à
procura de sua amiga e ficasse na sua companhia até que ele me atendesse por
alguns momentos.
Assim que chegamos ao seu consultório,
aplicou-me uma injeção, certamente para me acalmar, passando depois a conversar
comigo, naquela prosa amiga de médico para cliente: “Isso não vale nada e vai
passar logo! ” Em seguida retornamos à praça e depois de meus agradecimentos
pela sua atenção, ele foi ao reencontro de sua deusa.
Como veem, o Dr. Hely Nogueira fora
extremamente delicado para comigo. Deixar a namorada em pleno footing numa noite de domingo, para atender
a um pobre cliente apavorado, não era gesto para qualquer médico não!
Era preciso ser dedicado de verdade como ele
o fora! Estes eram alguns traços da personalidade do Dr. Hely Nogueira, moço
formado em medicina aos 21 anos de idade, nos ido de 1928.
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REFERÊNCIAS:
Pesquisa
e Organização: Charles
Aquino
Acervo:
Hemeroteca Digital Brasileira: Periódicos Digitais
Texto
1 e 3: FAGUNDES, Osório
Martins. Fragmentos de Um Passado, pag. 128,129.
Texto
2: Charles Aquino.
SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves de.
História de Itaúna, BH, Ed. Littera Maciel Ltda, 1986, p.246. Vol.1.
Genealogia da Família Nogueira Penido:
Guaracy
de Castro Nogueira (In Memoriam) – Genealogista, Edward Rodrigues da Silva
(Vavá) – Genealogista, Dr. Alan Penido – Genealogista, Aureo Nogueira da
Silveira – Genealogista.
Acervo Genealógico e Arte: Charles Aquino, MyHeritage
Acervo:
Câmara Municipal de Itaúna (Brasão)