sexta-feira, julho 26, 2019

HISTÓRIA DA SAÚDE EM ITAÚNA (PARTE III)

UM MÉDICO RECÉM-FORMADO

O Dr. Hely Nogueira, filho do Sr. Urquiza Nogueira e Dª Ana Dornas Nogueira, formara-se em medicina em dezembro de 1928, aos 21 anos de idade. Ele instalara o seu consultório no cômodo da loja, da casa velha do senhor seu pai, exatamente na esquina da praça [...]. Era uma casa antiga, onde morava o Sr. Urquiza Nogueira e seus familiares.

Precisamente na esquina, havia um cômodo de loja que estava vazio, com duas portas de madeira que davam para a praça e outra para a Travessa 2 de Janeiro, hoje Rua Coronel Artur Vilaça. Naquele local, o Dr. Hely instalara o seu consultório para o atendimento aos seus clientes.

Havia diversos médicos radicados na cidade, que clinicavam aqui há muitos anos; no entanto, fui procurar um médico recém-formado para o tratamento de minha saúde, precisamente porque ele se especializara nesse ramo da medicina, que era o tratamento de moléstias venéreas.

Hoje, no entanto, de acordo com a sua propaganda em jornais, a sua especialidade era “distúrbio psicossexuais”.

Ele atendia no seu consultório e trabalhava também na Casa de Caridade “Manoel Gonçalves”. Era um moço baixo, forte, pela clara, tipo alourado, comunicativo, muito atencioso e procurava sempre contagiar os seus clientes com o seu otimismo.

Iniciado o meu tratamento, ele começou a fazer experiência, uma vez que não lhe era possível diagnosticar o fundo maligno da minha moléstia. Naquele tempo não havia os recursos que existem hoje na medicina e por isso, os médicos lutavam também com as suas dificuldades, para que pudessem descobrir determinada moléstia.

No decorrer do tempo, a doença fora-se desenvolvendo em ritmo contínuo, ao invés de retroceder na sua marcha destruidora, com a aplicação terapêutica do facultativo. O Dr. Hely me atendia em seu consultório e no hospital também.

Não havia necessidade de ficar de cama, mas precisava de fazer certo repouso, não andar muito, o que não acontecia, entretanto, devido à minha impaciência. Ia ao hospital quase diariamente.

O médico começara a me aplicar uma injeção muito usada naquela época, para o tratamento da sífilis, denominada “914”. Aplicação endovenosa e em dosagem progressiva em centigramas, dia sim, dia não. E no decorrer do tempo, eu chegara a tomar uma dosagem “cavalar” como se dizia naquele tempo.

Era uma medicação tão brava, que se por descuido do médico ou do enfermeiro, a agulha transpassasse a veia e penetrasse no músculo um mínimo que fosse daquele líquido, o paciente quase morria de dor!

Certa manhã isto se deu comigo lá no hospital e fora o próprio Dr. Hely quem me aplicara a injeção, precisamente na sala de curativos. Ele dedicava muita atenção ao seu trabalho; no entanto, naquela manhã, sucedeu algo de errado, porque ele deixou que a agulha perfurasse a veia de lado a lado e assim que uma quantidade mínima do líquido atingiu o músculo do meu braço, eu senti uma dor intolerável.

O Dr. Hely percebendo a minha reação, retirou incontinente a agulha da veia. Ato contínuo, fez-me deitar sobre a mesa e, manejando-a em seguida, me colocou de cabeça para baixo, enquanto preparava rápido outra seringa com determinada injeção que me aplicou no músculo, certamente para combater a dor que eu sentia.

Instantes depois, ele, movimentara a alavanca da mesa, me deixando deitado em posição normal. Em seguida, aplicou-me na veia a “914” sem mais nenhum contratempo. Lembro-me ainda, de que passei maus momentos naquela longínqua manhã.  

CONSELHEIROS ITAUNENSES
Na década de 30 com a posse do Presidente Getúlio Vargas, as Câmaras Municipais foram substituídas e fechadas (Decreto nº 9.776, de 24 de novembro de 1930), passando a ser nomeadas de “Conselho Consultivo Municipal”.  Nos anos de 1936 e 1937 houve um retorno das Câmaras, todavia, com curta duração. Com o novo regime político instaurado e denominado de “Estado Novo”, por imposição do governo, realiza-se novamente os fechamentos de todos os Legislativos Municipais, voltando somente no final da década de 40.
O primeiro Conselho Consultivo Municipal de Itaúna foi realizado no dia 27 de dezembro de 1930, com os seguintes integrantes:
João de Cerqueira Lima
Empresário
Aderbal Victoy de Mello
Farmacêutico
Manoel Dias Corrêa
Empresário
Hely Nogueira
Médico
Antônio Augusto de Lima Coutinho
Médico Cirurgião



O MÉDICO E O FOOTING DA PRAÇA

Para demonstrar o quanto o Dr. Hely foi atencioso para comigo, passarei a relatar aqui certa ocorrência que se deu relativa a meu tratamento de saúde.

Naquela época, a Praça da Matriz era despida de qualquer arborização, sem o belo jardim que a ornamenta atualmente. Defronte à igreja, precisamente onde se acham localizados os bancos do passeio do jardim, erguia-se sobranceiro o belo “Cruzeiro de Madeira”, cujos braços pareciam querer apertar num amplexo espiritual as torres do tempo, tendo ainda a seus pés, uma calçada de pedras superpostas, onde à tardinha, ao pôr do sol, as pessoas amigas se assentavam para um bate-papo provinciano.

Já naquela época, havia na praça, nas noites de sábados e domingos, o célebre footing dos namorados.  Era o vaivém constante pra lá e pra cá. O Dr. Hely Nogueira fazia parte também daquela turma felizarda, tendo a seu lado a deusa de seu coração, com quem se casaria mais tarde.

No entardecer de certo domingo, eu foquei meio apavorado, meio nervoso com a minha doença e não tive a necessária paciência de esperar pela manhã do dia seguinte, a fim de conversar com o médico sobre o assunto. Descendo à noitinha, passei pela casa do Dr. Hely, mas não o encontrei, porque ele já havia saído de casa para encontrar-se com a sua pequena.

Eu continuei pela praça na companhia de um amigo, na expectativa de que ele surgisse ali a qualquer momento, ao lado de sua garota e não me enganei, porque ele apareceu realmente.

Depois que ele deus algumas voltas, enchi-me de coragem e fui ao seu encontro, pedindo-lhe licença para falar-lhe em particular. Atenciosamente, ele pediu permissão a sua namorada e veio falar comigo, um pouco afastado dali.

Falei-lhe então sobre a minha preocupação e solicitei-lhe o favor de me atender em seu consultório naquele instante. Delicadamente ele voltou à presença da sua pequena e pediu a esta que fosse à procura de sua amiga e ficasse na sua companhia até que ele me atendesse por alguns momentos.

Assim que chegamos ao seu consultório, aplicou-me uma injeção, certamente para me acalmar, passando depois a conversar comigo, naquela prosa amiga de médico para cliente: “Isso não vale nada e vai passar logo! ” Em seguida retornamos à praça e depois de meus agradecimentos pela sua atenção, ele foi ao reencontro de sua deusa.

Como veem, o Dr. Hely Nogueira fora extremamente delicado para comigo. Deixar a namorada em pleno footing numa noite de domingo, para atender a um pobre cliente apavorado, não era gesto para qualquer médico não!

Era preciso ser dedicado de verdade como ele o fora! Estes eram alguns traços da personalidade do Dr. Hely Nogueira, moço formado em medicina aos 21 anos de idade, nos ido de 1928.



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REFERÊNCIAS:
Pesquisa e Organização: Charles Aquino
Acervo: Hemeroteca Digital Brasileira: Periódicos Digitais
Texto 1 e 3: FAGUNDES, Osório Martins. Fragmentos de Um Passado, pag. 128,129.
Texto 2: Charles Aquino.
SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves de. História de Itaúna, BH, Ed. Littera Maciel Ltda, 1986, p.246. Vol.1.
Genealogia da Família Nogueira Penido: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam) – Genealogista, Edward Rodrigues da Silva (Vavá) – Genealogista, Dr. Alan Penido – Genealogista, Aureo Nogueira da Silveira – Genealogista.
Acervo Genealógico e Arte: Charles Aquino, MyHeritage
Acervo: Câmara Municipal de Itaúna (Brasão)

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