terça-feira, julho 30, 2019

OS COLIBRIS DE ITAÚNA

OFERTA DE 100 COLIBRIS À CHINA

Convidou o jornalista Assis Chateaubriand o embaixador Li Ti-Tsan e o Consul Geral da China em São Paulo, sr. Chihslen Mao para um almoço e estendendo o convite a amigos seus, como os srs. Nelson Cayres de Brito, Roberto Paiva e Ismael Ribeiro.

Momentos antes do almoço, o jornalista Assis Chateaubriand conferenciou com os diplomatas chineses, convidando-os a conhecer o viveiro de colibris da Casa Amarela, que conta inicialmente com 100 colibris, dos quais 28 capturados nas florestas, 72 foram criados nos viveiros do sr. Augusto Ruschi, no Espírito Santo.

Durante a visita o jornalista Assis Chateaubriand declarou demostrando ser profundo conhecedor do assunto que os colibris se adaptam bem ao cativeiro. Presos vivem muito mais tempo que em liberdade.

Disse que cárcere privado é promissor para esses pássaros, pois tem o néctar das flores e o mel (água com açúcar) que inexistem na floresta. A água com açúcar colocada em redor do viveiro é preparada na base de 20 por centro ou ainda: em cada litro de d’agua 200 gramas de açúcar.  

CAMPANHA DOS COLIBRIS NO BRASIL

Perguntou o sr. Assis Chateaubriand aos diplomatas chineses se a China existe colibris, tendo o embaixador Li Ti-Tsan respondido negativamente. Só veio a conhecer alguns em Petrópolis e, ontem, a coleção da Casa Amarela.

Esclarecendo a oferta de colibris à República da China, o sr. Assis Chateaubriand disse que enviará colibris das montanhas de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul que estão habituados a uma temperatura de 3 a 4 graus. E argumentou: “Tenho um amigo na Inglaterra para quem mandei 60 colibris.

Ele os mantém durante o inverno a uma temperatura de 20 graus abaixo de zero. Os colibris não devem ser engordados. Gordos morrem, porque a sua musculatura impede a conservação e agilidade. A gordura é inimiga do beija-flor.

Vamos iniciar uma campanha para dar ao Brasil 500 viveiros em um ano. Nós estamos editando um livro em dois volumes sobre os colibris brasileiros. São conhecidas no mundo 330 variedades de colibris, das quais o Brasil já tem 130.


Assis Chateaubriand



ITAÚNA ADERE À CAMPANHA DOS COLIBRIS

A cidade de Itaúna será integrada na Campanha Nacional pela preservação da espécie dos beija-flores, lançada pelo jornalista Assis Chateaubriand, instalando três viveiros de colibris, que, serão inaugurados, ali, em maio, com grandes festividades. O principal viveiro será construído na praça Augusto Gonçalves, por iniciativa do prefeito Milton de Oliveira Penido, devendo obedecer às disposições da planta modelo, distribuída pelos “Diários Associados”.

O chefe do Executivo municipal de Itaúna convidou o fundador dos “Associados” para paraninfar a solenidade e vai solicitar a indicação da cidade par sede do Museu Regional do Oeste de Minas, que deverá ser instalado pela Campanha dos Museus Regionais, também, lançada no país pelo sr. Assis Chateaubriand.

Em seu pedido, o prefeito Milton de Oliveira Penido vai evocar a tradição histórica de Itaúna, bem como seu pioneirismo na indústria da região, lembrando, ainda, os foros de cultura de sua gente. Itaúna foi uma das primeiras cidades mineiras a possuir um jornal “O Centro de Minas”, que circulou antes de 1900 e uma das primeiras a instalar uma indústria têxtil — a Companhia de Tecidos Santanense, entre outras inúmeras conquistas.


Prefeito Milton de Oliveira Penido

NOTA
Essa reportagem é do ano de 1963. O Brasil evoluiu e com ele a mentalidade/entendimento da criação/preservação de “pássaros da fauna silvestre”. Hoje temos diversas leis de proteção visando a conscientização/preservação da nossa fauna brasileira.

Os colibris são aves Apodiformes que “é uma ordem de aves de pequeno porte, caracterizadas pelo bico longo e asas afiladas. Estes animais têm um metabolismo muito acelerado, em que o batimento cardíaco pode chegar a 1.200bmt (batimentos por minuto), asas muito longas, úmero curto, músculos de voo muito desenvolvidos, penas secundárias curtas, dez penas caudais, pés muito pequenos com garras recurvadas. São os andorinhões e os beija-flores”.

A deputada Shéridan Esterfany Oliveira de Anchieta é uma psicóloga e política brasileira, deputada federal por Roraima que enviou um Projeto de nº 3.264/2015 ao Congresso Nacional que proíbe “a criação de passeiformes, nativos ou exóticos, em cativeiro, em todo o território nacional”, entretanto, na “Justificação” do projeto, acreditamos que seja também, uma importante mensagem de preservação e amor a todos os “pássaros” da fauna silvestre brasileira:

JUSTIFICAÇÃO

Os pássaros necessitam, para seu normal desenvolvimento, alimentação e reprodução, viver em liberdade. Os pássaros estão adaptados para voar e explorar vastos espaços. Confiná-los dentro de exíguas gaiolas, onde mal podem se mover, privando-os do contato com o diversificado e estimulante ambiente natural, é um ato de crueldade.

A legislação vigente proíbe a captura e a manutenção em cativeiro de pássaros da fauna silvestre, mas autoriza a criação e a comercialização de dezenas de espécies da fauna nativa nascidas em cativeiro e de espécies exóticas.

Manter aves em gaiolas, mesmo as nascidas em cativeiro, para desfrute humano, segue sendo um ato cruel que não se justifica moralmente. Não é necessário manter pássaros em gaiolas para desfrutar o canto dos sabiás, dos pintassilgos e dos canários, o voo dos beija-flores e dos pardais, o trabalho artesanal do joão-de-barro e a beleza da gralha azul e do bico-de-ferro, apenas para dar alguns pouquíssimos exemplos.

Há inúmeras formas de atrair e manter pássaros na vizinhança das moradias humanas, sem que seja necessário privá-los da liberdade. O que precisamos é manter as áreas com vegetação natural, ampliar os parques e a arborização nas cidades e educar as pessoas para que possam conhecer, reconhecer e desfrutar dos pássaros ao ar livre.

Brasília, com suas extensas áreas verdes e parques urbanos, é um exemplo. É muito fácil observar, no Plano-Piloto, pássaros como o sabiá, o joão-de-barro, o bem-te-vi, o beija-flor-tesoura, a asa-branca, a rolinha-caldo-de-feijão, o chopim, os anus, o alma-de-gato, andorinhas, pica-paus, periquitos, o carcará e muitos outros.

No Parque Olhos D´agua, bem no meio da área urbana, já foram registrados mais de uma centena de pássaros. Com um pouco mais de atenção é possível localizar ninhos e observar, na época de reprodução, o encantador processo de cuidado parental e o crescimento dos filhotes.
A criação de pássaros em gaiola é uma atividade anacrônica, que não se coaduna com os valores atuais. É tempo de abandoná-la, em favor de formas mais humanas, mais éticas e sustentáveis de desfrutar dos pássaros e da natureza. É com esse objetivo em mente que estamos apresentando o presente Projeto de Lei.

Sala das Sessões, em 8 de outubro de 2015.
Deputada Shéridan



Referências:

Pesquisa e Organização: Charles Aquino

Fonte Digital: Biblioteca Nacional Digital / Hemeroteca Digital Brasileira. “O Jornal”, Rio de Janeiro, 22 março de 1966, p.8; “Diário da Noite”, São Paulo 8 de julho de 1963, p.3.

Acervo: Itaúna Bons Tempos: Saudades anos 70, 80 e 90.

Arte: Alessandro Narimatsu de Faria (Colibri). Disponível em: @alefaria.art

Acervo: Assis Chateaubriand. Disponível em:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Assis_Chateaubriand


sexta-feira, julho 26, 2019

HISTÓRIA DA SAÚDE EM ITAÚNA (PARTE III)

UM MÉDICO RECÉM-FORMADO

O Dr. Hely Nogueira, filho do Sr. Urquiza Nogueira e Dª Ana Dornas Nogueira, formara-se em medicina em dezembro de 1928, aos 21 anos de idade. Ele instalara o seu consultório no cômodo da loja, da casa velha do senhor seu pai, exatamente na esquina da praça [...]. Era uma casa antiga, onde morava o Sr. Urquiza Nogueira e seus familiares.

Precisamente na esquina, havia um cômodo de loja que estava vazio, com duas portas de madeira que davam para a praça e outra para a Travessa 2 de Janeiro, hoje Rua Coronel Artur Vilaça. Naquele local, o Dr. Hely instalara o seu consultório para o atendimento aos seus clientes.

Havia diversos médicos radicados na cidade, que clinicavam aqui há muitos anos; no entanto, fui procurar um médico recém-formado para o tratamento de minha saúde, precisamente porque ele se especializara nesse ramo da medicina, que era o tratamento de moléstias venéreas.

Hoje, no entanto, de acordo com a sua propaganda em jornais, a sua especialidade era “distúrbio psicossexuais”.

Ele atendia no seu consultório e trabalhava também na Casa de Caridade “Manoel Gonçalves”. Era um moço baixo, forte, pela clara, tipo alourado, comunicativo, muito atencioso e procurava sempre contagiar os seus clientes com o seu otimismo.

Iniciado o meu tratamento, ele começou a fazer experiência, uma vez que não lhe era possível diagnosticar o fundo maligno da minha moléstia. Naquele tempo não havia os recursos que existem hoje na medicina e por isso, os médicos lutavam também com as suas dificuldades, para que pudessem descobrir determinada moléstia.

No decorrer do tempo, a doença fora-se desenvolvendo em ritmo contínuo, ao invés de retroceder na sua marcha destruidora, com a aplicação terapêutica do facultativo. O Dr. Hely me atendia em seu consultório e no hospital também.

Não havia necessidade de ficar de cama, mas precisava de fazer certo repouso, não andar muito, o que não acontecia, entretanto, devido à minha impaciência. Ia ao hospital quase diariamente.

O médico começara a me aplicar uma injeção muito usada naquela época, para o tratamento da sífilis, denominada “914”. Aplicação endovenosa e em dosagem progressiva em centigramas, dia sim, dia não. E no decorrer do tempo, eu chegara a tomar uma dosagem “cavalar” como se dizia naquele tempo.

Era uma medicação tão brava, que se por descuido do médico ou do enfermeiro, a agulha transpassasse a veia e penetrasse no músculo um mínimo que fosse daquele líquido, o paciente quase morria de dor!

Certa manhã isto se deu comigo lá no hospital e fora o próprio Dr. Hely quem me aplicara a injeção, precisamente na sala de curativos. Ele dedicava muita atenção ao seu trabalho; no entanto, naquela manhã, sucedeu algo de errado, porque ele deixou que a agulha perfurasse a veia de lado a lado e assim que uma quantidade mínima do líquido atingiu o músculo do meu braço, eu senti uma dor intolerável.

O Dr. Hely percebendo a minha reação, retirou incontinente a agulha da veia. Ato contínuo, fez-me deitar sobre a mesa e, manejando-a em seguida, me colocou de cabeça para baixo, enquanto preparava rápido outra seringa com determinada injeção que me aplicou no músculo, certamente para combater a dor que eu sentia.

Instantes depois, ele, movimentara a alavanca da mesa, me deixando deitado em posição normal. Em seguida, aplicou-me na veia a “914” sem mais nenhum contratempo. Lembro-me ainda, de que passei maus momentos naquela longínqua manhã.  

CONSELHEIROS ITAUNENSES
Na década de 30 com a posse do Presidente Getúlio Vargas, as Câmaras Municipais foram substituídas e fechadas (Decreto nº 9.776, de 24 de novembro de 1930), passando a ser nomeadas de “Conselho Consultivo Municipal”.  Nos anos de 1936 e 1937 houve um retorno das Câmaras, todavia, com curta duração. Com o novo regime político instaurado e denominado de “Estado Novo”, por imposição do governo, realiza-se novamente os fechamentos de todos os Legislativos Municipais, voltando somente no final da década de 40.
O primeiro Conselho Consultivo Municipal de Itaúna foi realizado no dia 27 de dezembro de 1930, com os seguintes integrantes:
João de Cerqueira Lima
Empresário
Aderbal Victoy de Mello
Farmacêutico
Manoel Dias Corrêa
Empresário
Hely Nogueira
Médico
Antônio Augusto de Lima Coutinho
Médico Cirurgião



O MÉDICO E O FOOTING DA PRAÇA

Para demonstrar o quanto o Dr. Hely foi atencioso para comigo, passarei a relatar aqui certa ocorrência que se deu relativa a meu tratamento de saúde.

Naquela época, a Praça da Matriz era despida de qualquer arborização, sem o belo jardim que a ornamenta atualmente. Defronte à igreja, precisamente onde se acham localizados os bancos do passeio do jardim, erguia-se sobranceiro o belo “Cruzeiro de Madeira”, cujos braços pareciam querer apertar num amplexo espiritual as torres do tempo, tendo ainda a seus pés, uma calçada de pedras superpostas, onde à tardinha, ao pôr do sol, as pessoas amigas se assentavam para um bate-papo provinciano.

Já naquela época, havia na praça, nas noites de sábados e domingos, o célebre footing dos namorados.  Era o vaivém constante pra lá e pra cá. O Dr. Hely Nogueira fazia parte também daquela turma felizarda, tendo a seu lado a deusa de seu coração, com quem se casaria mais tarde.

No entardecer de certo domingo, eu foquei meio apavorado, meio nervoso com a minha doença e não tive a necessária paciência de esperar pela manhã do dia seguinte, a fim de conversar com o médico sobre o assunto. Descendo à noitinha, passei pela casa do Dr. Hely, mas não o encontrei, porque ele já havia saído de casa para encontrar-se com a sua pequena.

Eu continuei pela praça na companhia de um amigo, na expectativa de que ele surgisse ali a qualquer momento, ao lado de sua garota e não me enganei, porque ele apareceu realmente.

Depois que ele deus algumas voltas, enchi-me de coragem e fui ao seu encontro, pedindo-lhe licença para falar-lhe em particular. Atenciosamente, ele pediu permissão a sua namorada e veio falar comigo, um pouco afastado dali.

Falei-lhe então sobre a minha preocupação e solicitei-lhe o favor de me atender em seu consultório naquele instante. Delicadamente ele voltou à presença da sua pequena e pediu a esta que fosse à procura de sua amiga e ficasse na sua companhia até que ele me atendesse por alguns momentos.

Assim que chegamos ao seu consultório, aplicou-me uma injeção, certamente para me acalmar, passando depois a conversar comigo, naquela prosa amiga de médico para cliente: “Isso não vale nada e vai passar logo! ” Em seguida retornamos à praça e depois de meus agradecimentos pela sua atenção, ele foi ao reencontro de sua deusa.

Como veem, o Dr. Hely Nogueira fora extremamente delicado para comigo. Deixar a namorada em pleno footing numa noite de domingo, para atender a um pobre cliente apavorado, não era gesto para qualquer médico não!

Era preciso ser dedicado de verdade como ele o fora! Estes eram alguns traços da personalidade do Dr. Hely Nogueira, moço formado em medicina aos 21 anos de idade, nos ido de 1928.



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REFERÊNCIAS:
Pesquisa e Organização: Charles Aquino
Acervo: Hemeroteca Digital Brasileira: Periódicos Digitais
Texto 1 e 3: FAGUNDES, Osório Martins. Fragmentos de Um Passado, pag. 128,129.
Texto 2: Charles Aquino.
SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves de. História de Itaúna, BH, Ed. Littera Maciel Ltda, 1986, p.246. Vol.1.
Genealogia da Família Nogueira Penido: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam) – Genealogista, Edward Rodrigues da Silva (Vavá) – Genealogista, Dr. Alan Penido – Genealogista, Aureo Nogueira da Silveira – Genealogista.
Acervo Genealógico e Arte: Charles Aquino, MyHeritage
Acervo: Câmara Municipal de Itaúna (Brasão)

domingo, julho 21, 2019

HISTÓRIA DA SAÚDE EM ITAÚNA (PARTE II)

DOUTOR OVÍDIO
 Dr. Ovídio Nogueira Machado nasceu no dia 6 de novembro de 1888 em Sant’Anna do Rio São João Acima, hoje Itaúna, era filho do cel. Josias Nogueira Machado e dona Tereza Gonçalves Nogueira. Foi casado com Zélia de Paula Machado, com a qual teve seis filhos:

Ahmés de Paula Machado c.c. Bety Oswald Machado, Ossian de Paula Machado (Solteiro), Neda Machado de Sousa c.c. Dirceu Alves de Sousa, Yeda de Paula Machado c.c. Lauro Carneiro Borges, Glauco de Paula Machado c.c. Anália Queiroz Machado e Gláucia Machado Corradi c.c. Valdir Corradi

Fez seus estudos primários em Itaúna e sob orientação de seu tio Aureliano Nogueira Machado, preparou-se para os exames de seleção (hoje vestibular) na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi aprovado em primeiro lugar com “distinção e louvor” sendo distinguido por várias vezes com medalhas de “honra ao mérito”.

Diplomou-se em 1917 e montou seu consultório médico na cidade de Iconha (Espírito Santo) a pedido do Presidente do Estado (cargo que hoje se equivale a de Governador do Estado). Pela característica de cidade polo, ali atendeu doentes de dezenas de cidades, ficando conhecido na região como “pai dos pobres”, pelo seu desprendimento. Viajava léguas e léguas a cavalo para atender aos clientes mais pobres, sem nunca se preocupar com renumeração.

No Espírito Santo casou-se com Zélia Gaigher de Paula (nome de solteira), nascendo ali seu primeiro filho Ahmés de Paula Machado.

Estudioso permanente, fazia anualmente viagens de estudos ao Rio de Janeiro, onde participava de congressos médicos trocando experiências. Além da medicina, interessava-se por qualquer assunto.

Era um apaixonado pela literatura, lia correntemente obras médicas chegando a lecionar latim, francês e matemática. Há dois livros publicados sobre matemática “Estudo e Aritmética” e “Ensaio Matemático”, descobrindo a “trisseção do ângulo”, problema insolúvel até a sua época. Defendeu a tese “Novas formas logarítmicas” sendo muito elogiado pela banca examinadora.

A medicina foi sua maior paixão e seu objetivo maior era atender a todos com a mesma dedicação e profissionalismo. Com a doença de seu pai (cel. Josias Nogueira Machado) retornou a Itaúna.

A DESCOBERTA DO ENDOVAN

Até o auge de sua carreira, não havia ainda antibiótico ou sulfa, por isso, montou junto com seu irmão o dr. Lincoln Nogueira Machado um laboratório de pesquisas, onde descobriram e desenvolveram com intenso trabalho, um anti-inflamatório denominado ENDOVAN.

Com o sucesso da fórmula, os ilustres médicos Ovídio e Lincoln foram para o Rio de Janeiro para divulgação do medicamento, provendo várias palestras e entrevistas a jornais da cidade.  O jornal “A Batalha” informou que:

O dr. Ovídio Nogueira Machado que nos visitou ontem é um renomado médico em todo Estado de Minas, onde vive e se entrega a sua profissão.

Nasceu em Itaúna. E lá, naquele recanto sossegado do interior mineiro, no laboratório mais ou menos aparelhado de uma farmácia que mantém juntamente com o seu irmão, também médico, realizam pesquisas procurando lenitivo para certas enfermidades, muito comuns no seu “habitat”.

Contou-nos o distinto médico que há dez anos vinha estudando a fórmula de um medicamento capaz de atuar vantajosamente, sobre muitas doenças, tais como inflamações agudas da boca, da língua, da garganta, ulcerações internas e externas, em infecções da pele, etc. 

E chegou realmente a um resultado satisfatório com as injeções a que deu o nome de ENDOVAN. Aplica-se a todas as moléstias acima mencionada dando excelente resultado no câncer.

O dr. Ovídio, que tem interesse em lançar o seu medicamento nesta praça então esclarece:

— Já o experimentei em três casos e obtive êxito surpreendente. A ferida diminui desaparecendo a supuração, o mal cheiro e a dor. Também nas manifestações abdominais agudas dando belos resultados.  Já o tenho aplicado em mais de quinhentas pessoas. O meu irmão dr. Lincoln Nogueira Machado, auxiliou-se na descoberta do preparado.

Citou outro caso:
— Empreguei as injeções ENDOVAN em pessoas da família do ex-deputado federal e membro da Academia Mineira de Letras, o dr. Mário Mattos. Este ficou tão entusiasmado com o êxito, que me escreveu uma carta, achado que o medicamento era maravilhoso concluiu:

— Prezados amigos drs. Ovídio Nogueira Machado e Lincoln Nogueira Machado. Apresso-me a dar-vos o meu testemunho a respeito de vossa notável descoberta científica do ENDOVAN.

Para mim, não há dúvida nenhuma de que se trata de injeção, que é específica para inflamações agudas em geral. O efeito é imediato.

Tive em minha família, três casos de curas surpreendentes e rápidas, quando já os doentes estavam desatinados de dor, achando-se o processo inflamatório prestes a sutura.  
Interessado pela descoberta, presenciei a muitíssimos outros casos em conhecidos em amigos, em parentes. O resultado foi sempre o mesmo: — definitivo, pronto e insofismável.

Estou, assim, absolutamente convencido que o ENDOVAN é extraordinária descoberta que imortalizará vosso nome, constituindo permanente benefício para a humanidade.
Tenho, pois, viva satisfação em ser o primeiro itaunense, patrício vosso, a proclamar espontaneamente essa verdade, que em breve será ratificada pelos meios científicos brasileiros.  Aos incrédulos podereis dizer por enquanto: — experimentem.

Itaúna primeiro de fevereiro de mil novecentos e trina e dois.
Mário Mattos


 No jornal “A Gazeta da Pharmacia” da cidade do Rio de Janeiro de dezembro de 1932, era anunciado pelo Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio o resultado do pedido para registro da marca do medicamento:
Dr. Ovídio Nogueira Machado, recorrendo do despacho que, exarado no processo relativo ao seu pedido do registro da marca ENDOVAN, para distinguir um produto farmacêutico, da classe 3, mandou que fossem preenchidas as formalidades do decreto 19.606 de 19 de janeiro de 1931. Nego provimento ao recurso. Dia 1º (D.O. 07/10/1932) Silva Araújo.

ZÉLIA & OVÍDIO


O casal dr. Ovídio Nogueira Machado e dona Zélia de Paula Machado, eram extremamente dedicados às crianças.  Ajudado pela dedicação de sua esposa fundou um pequeno hospital em frente à sua casa, dando-lhe o nome de “Maternidade”, para atender às mães carentes ou solteiras.  

Ovídio e Zélia faziam partos e davam toda a assistência aos recém-nascidos, fornecendo até o enxoval do bebê, sem que pagassem nada pela assistência. Além da “Maternidade” sua esposa fundou o “Lactário”, para fornecer leite diariamente às crianças carentes. Esta entidade, por várias décadas prestou inestimáveis serviços à comunidade itaunense.

Em suas pesquisas, desenvolveu um processo para a cura do tifo, epidemia que tomou conta da cidade. Mudou-se então para Santanense, onde a doença tinha feito mais vítimas, lá prestou assistência permanente evitando que se propagasse ainda mais.
Cultura inigualável, Dr. Ovídio se manteve até idade avançada atualizando-se em sua profissão, deslumbrando com a descoberta da penicilina, outros remédios e novos recursos que apareciam na medicina.   

Dr. Ovídio Nogueira Machado faleceu no dia 27 de julho de 1978 aos 90 anos de idade, sendo seu corpo sepultado no cemitério central da cidade de Itaúna junto aos seus entes queridos (Perpétua 3845).



Em homenagem aos beneméritos dr. Ovídio e dona Zélia encontra-se em Itaúna uma Clínica Médica destinada a serviços de saúde denominada Policlínica Municipal Dr. Ovídio Nogueira Machado, um Logradouro no Bairro de Lourdes denominado Rua Dr. Ovídio Nogueira Machado e um centro de danças denominado Centro Cultural de Dança Zélia de Paula Machado.





REFERÊNCIAS:
Organização e Pesquisa: Charles Aquino
Texto: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam), Charles Aquino
Acervo: Yeda de Paula Machado, ICMC – Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira.
Fonte Impressa: Jornal A Batalha, 25 de março de 1932, nº 684, 686, 698, 716.
Fonte Impressa: Jornal a Gazeta da Pharmacia, Rio de Janeiro dezembro de 1932, nº 3.