terça-feira, outubro 16, 2018

HISTÓRIA DA SAÚDE EM ITAÚNA (PARTE V)

DR. DORINATO LIMA

O doutor Dorinato de Oliveira Lima nasceu aos dois dias do mês de julho de 1886, na cidade de Entre Rios de Minas, filho de Adelino de Oliveira e d. Maria Cândida de Lima Oliveira.


Fez o curso secundário na Academia de Comércio de Juiz de Fora e diplomou-se, no ano de 1914, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, especializando-se em cirurgia. Fixou residência em Itaúna, onde instalou seu consultório médico.

Casou-se, em 1916, com a senhora Geni Nogueira Lima, pertencente a tradicional família itaunense, eis que filha de Josias Nogueira Machado, personalidade das mais influentes no período da formação histórica do município, e de sua esposa Tereza Gonçalves Nogueira, filha de Manoel José de Souza Moreira e irmã do Dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira.


Dorinato de Oliveira Lima, por seu talento profissional, adquiriu grande renome como cirurgião. Pacientes provindos, não apenas do município, mas, também, de toda a região centro-oeste do Estado vinha a Itaúna para serem submetidos a tratamento cirúrgico, especialmente a extração do bócio, hipertrofia da glândula tireoide, popularmente conhecida como “papo”, mal que grassava, em caráter epidêmico, através de diversas regiões mineiras.

A intensa atividade do Dr. Dorinato de Oliveira Lima, como ilustre cirurgião, imprimiu grande movimentação e elevou o conceito profissional da “Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira”, especialmente nas décadas de 1920 e 1930, sendo que esta instituição, a que tanto serviu, concedeu-lhe, post-mortem, com integral justiça, o diploma de Irmão Benemérito, em 31 de agosto de 1947 (SOUZA, 1986).


O dr. Dorinato, estudioso e pesquisador, empreendeu duas viagens de estudos à Europa, nos anos de 1927 e 1938. Transferiu-se na década de 1930 para Belo Horizonte, com o objetivo de atuar profissionalmente em cenário mais amplo, mas manteve intactas as suas ligações com a terra de adoção. 

Foi o período em que mais se projetou, tanto no campo profissional como na vida pública, pois se aproximara politicamente pelas mãos de Mário Gonçalves de Matos, do Interventor Benedito Valadares, de quem viria se tornar íntimo colaborador, e, nesta qualidade, passou a exercer, na década de 1930, visível influência na política municipal de Itaúna.


Ele foi nomeado em 28 de maio de 1934, pelo Presidente Getúlio Vargas, por indicação de Benedito Valadares, membro do Conselho Consultivo do Estado de Minas, criado após a revolução de 1930, e o consequente encerramento das atividades do Poder Legislativo (SOUZA, 1986).

Faleceu em 13 de fevereiro de 1947, aos sessenta anos de idade, sobrevivendo-lhe a esposa, D. Gení Nogueira Lima, admirável exemplo de esposa e mãe, e seus dignos filhos, doutores Tito de Oliveira Lima e F. Machado Lima.


O “Minas Gerais”, órgão oficial do Estado, em seu necrológico publicado no dia seguinte ao de sua morte, observou com procedência:
“Mas, no Dr. Dorinato de Oliveira Lima, o político não superava o homem, que aparecia em toda a sua bela formação humana, e no recesso do lar, onde o chefe de família, possuidor de sólidas virtudes e nobres dotes de espírito, formara uma família honrada e digna, rodeada do apreço e da admiração de toda a nossa sociedade”.

Esta, assim, a vida deste ilustre e digno itaunense de adoção, Dorinato de Oliveira Lima, que, mercê de seu talento, bondade e criatividade soube conquistar espaço indelével na rica paisagem humana de Itaúna (NOGUEIRA).





O EXTIRPADOR DE PAPOS

Visto por Gibi

Este cirurgião, que mete medo a tanta gente, pelo seu bisturi famoso, é o cidadão magnânimo, em que o sentimento de solidariedade humana fala mais alto do que as vozes do egoísmo.

Ele faz da sua bondade uma arma terrível, porque desarma as prevenções e tempera as amizades sólidas que cedem que, que não se desarticulam, que prevalecem apesar de todos os choques de opiniões e sentimentos que dividem os homens.

Minas inteira o conhece. Pelo menos, ouvia falar do dr. Dorinato de Oliveira Lima, ou melhor, ouviu falar no “Extirpador de Papos — tout court.

É dos confins do sertão se descocam os desesperados de cura, fiados na proficiência do clínico e do operador. A todos atende com o mesmo desvelo, com a mesma solicitude, ricos e pobres, opulentos e mendigos, fiel ao juramento que prestou e ainda fiel ao seu coração que lhe ordena e comanda os gestos de desprendimento e os atos de generosidade.

 A sua vitória foi obtida pelos lances de bondade. A sua vitória foi alcançada mais ainda pelo seu talento, pela sua perícia, pela precisão da sua técnica. Uma vitória que fica, conseguida pelo esforço próprio, em que há episódios de grandeza moral e golpes de audácia cientifica e abnegação e certeza.

Este é o homem temido. Faz medo a muita gente. Mas o temor humano não envolve o homem em que se confia, em que se crê, em que se fundam as últimas esperanças. O temor vem da sugestão da doença, vem da aversão ao radicalismo cirúrgico. E ele é um grande cirurgião. O bisturi é que faz tremer.

A ciência e a bondade deram-se as mãos, fraternalmente, nesse belo espírito. Tímido, emotivo, sensível perante os fatos quotidianos, é senhor das suas emoções, seguro da sua proficiência quando enfrenta os casos melindrosos, os casos desesperados.
Um temperamento que se comove perante uma desgraça, um caráter que se revolta perante uma injustiça, manso com os humildes, sereno e reto, o dr. Dorinato de Oliveira Lima soube cercar-se dessa simpatia que é fervorosa como um raio de luz.

Porque transfigura a sua ciência e a sua técnica em sacerdócio devocional, no culto puro da bondade e no culto austero da sua profissão. Um sábio e um justo.







REFERÊNCIAS:
Organização e Pesquisa: Charles Aquino
Texto: Guaracy de Castro Nogueira (In memoriam)
Texto: Souza. Miguel Augusto Gonçalves de. História de Itaúna,
BH, Ed. Littera         Maciel Ltda., 1986, p. 258, 260.
Acervo: Dr. Marco Antônio Lara
Fotografia:  F. Ribeiro – Photographo
Revista: Bello Horizonte, 1933, p. 15.