No
meu tempo em Itaúna na década de 50 não existia "bulling".
Quem não se adaptasse com as gozações, ficava riscado do convívio na turma. Era
pegar ou largar. Sem apelação.
Eu
mesmo fui recordista de apelidos. Muito branco, quase leite, com uma pinta no
queixo. Fui chamado de Zé Branco, Pinta Roxa e Zé Pampa. Dos sete aos onze anos
carreguei os apelidos citados. Quando entrei no ginásio, me deram o apelido de
Camelo. Hoje, com mais de setenta, ainda tem gente que me trata de Camelo. Nunca
soube a razão de tal " apodo". Sempre soube o autor da façanha. Foi o
Zé Dias, filho do Tenente Virgílio, ele mesmo apelidado de "Veio da Cuspida".
Enquanto viveu na cidade, carregou tal apelido. Eu nunca liguei e se ligasse
era pior.
Tempos
depois, já estudante em Belo Horizonte, fui premiado com a alcunha de
"Pinduca". O motivo é óbvio. Minha cabeça é igual a um antigo
personagem de histórias em quadrinho.
Itaúna
era pródiga em apelidos. O Gasolina, trabalhava no posto do Bossuet Guimarães.
Boa figura. Tinha o Pataca, meio bobalhão, que sofria nas nossas mãos nas filas
de marcação de mesas nos bailes do Automóvel Clube.
O
delegado substituto era o Tião Secreta. Tinha ainda o Tião da Farmácia de
apelido um tanto proibido para um blog de respeito. Todos os tipos populares,
imortalizados nas fotos do Oswaldo, em memorável coleção tinham apelido.
A
Cutinha, se dizia milionária e culpava os ricos da cidade de roubarem a sua
grana. O Só Bicho, andava pelas ruas zuando tal qual um besouro. Apelido
lógico. Entre os tipos, a Doneta, baixinha e raquítica, sorria pra todo mundo
com seus dentes amarelos. O Doutor da Mula Ruça, de óculos, paletó surrado e
gravata encardida, dava aulas de cultura inútil, para qualquer um que o
interpelasse. Uma enciclopédia às avessas.
Outros
não gostavam do apelido. O Zé Boneco, vendedor de pirulitos de mel, espetados
numa tábua, tinha horror da alcunha. Alegria da molecada que gritava o apelido
para vê-lo gritar impropérios. Terminando, lembro-me de um senhor gordo que
trabalhava no Banco do Brasil. Apelidado de Mixirica, detestava ser chamado assim.
Alegria da rapaziada, que fazia questão de desconhecer seu nome de batismo.
Acho que era Genésio.
Em
tempo: Urtigão era apelido de meu irmão. Com a idade, fiquei muito ranzinza. Adotei
o pseudônimo.
Texto:
Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que
viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente
para o blog Itaúna Décadas em 30/10/2017.
Acervo:
Shorpy