quinta-feira, novembro 02, 2017

APELIDOS ITAUNENSE


No meu tempo em Itaúna na década de 50 não existia "bulling". Quem não se adaptasse com as gozações, ficava riscado do convívio na turma. Era pegar ou largar. Sem apelação.
Eu mesmo fui recordista de apelidos. Muito branco, quase leite, com uma pinta no queixo. Fui chamado de Zé Branco, Pinta Roxa e Zé Pampa. Dos sete aos onze anos carreguei os apelidos citados. Quando entrei no ginásio, me deram o apelido de Camelo. Hoje, com mais de setenta, ainda tem gente que me trata de Camelo. Nunca soube a razão de tal " apodo". Sempre soube o autor da façanha. Foi o Zé Dias, filho do Tenente Virgílio, ele mesmo apelidado de "Veio da Cuspida". Enquanto viveu na cidade, carregou tal apelido. Eu nunca liguei e se ligasse era pior.
Tempos depois, já estudante em Belo Horizonte, fui premiado com a alcunha de "Pinduca". O motivo é óbvio. Minha cabeça é igual a um antigo personagem de histórias em quadrinho.
Itaúna era pródiga em apelidos. O Gasolina, trabalhava no posto do Bossuet Guimarães. Boa figura. Tinha o Pataca, meio bobalhão, que sofria nas nossas mãos nas filas de marcação de mesas nos bailes do Automóvel Clube.
O delegado substituto era o Tião Secreta. Tinha ainda o Tião da Farmácia de apelido um tanto proibido para um blog de respeito. Todos os tipos populares, imortalizados nas fotos do Oswaldo, em memorável coleção tinham apelido.
A Cutinha, se dizia milionária e culpava os ricos da cidade de roubarem a sua grana. O Só Bicho, andava pelas ruas zuando tal qual um besouro. Apelido lógico. Entre os tipos, a Doneta, baixinha e raquítica, sorria pra todo mundo com seus dentes amarelos. O Doutor da Mula Ruça, de óculos, paletó surrado e gravata encardida, dava aulas de cultura inútil, para qualquer um que o interpelasse. Uma enciclopédia às avessas.
Outros não gostavam do apelido. O Zé Boneco, vendedor de pirulitos de mel, espetados numa tábua, tinha horror da alcunha. Alegria da molecada que gritava o apelido para vê-lo gritar impropérios. Terminando, lembro-me de um senhor gordo que trabalhava no Banco do Brasil. Apelidado de Mixirica, detestava ser chamado assim. Alegria da rapaziada, que fazia questão de desconhecer seu nome de batismo. Acho que era Genésio.
Em tempo: Urtigão era apelido de meu irmão. Com a idade, fiquei muito ranzinza. Adotei o pseudônimo.


Texto: Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 30/10/2017.
Acervo: Shorpy