quarta-feira, julho 20, 2016

PROFESSOR PLÁCIDO TEIXEIRA COUTINHO


ATITUDE EDUCATIVA E FALÊNCIA DA ESPERANÇA

 A História da Educação em Sant’Anna de São João Acima (hoje Itaúna), termo da Vila de Pitangui, pertencente à Comarca do Rio das Velhas, foi construída a partir de um grande esforço coletivo, tanto de professores quanto da comunidade que possuíam o mesmo ideal e desejo de ter um ensino local, isso "bem antes do Governo do Estado cogitar da instrução intensiva" (DORNAS, 1951, p.156).  A criação da primeira escola pública no século XIX, regida pelo mestre Francisco Zeferino[1] foi determinada pela Lei Mineira nº 511 de 3 de julho de 1850 que no seu Artigo 3°, §3.º, estabelecia a criação das "Cadeiras do 1º gráo de instrucção primaria para o sexo masculino na Freguezia de Sant'Anna de São João Acima, Municíop de Pitangui" (Livro da Lei Mineira, 1850).

 No ano de 1831, foi realizado o primeiro censo no distrito de Sant'Anna de São João Acima, com dados de 2.757 habitantes existentes na vila, sendo 869 mulatos, 843 brancos, 552 crioulos, 448 pretos e 45 africanos. O censo fornecia diversos dados como o número de quarteirões e fogos [2]; o nome e profissão dos moradores; sua cor e país de origem; se eram livres ou escravos; filhos legítimos ou expostos[3], estado civil, idade e ocupação profissional. (Itaúna em Detalhes, 2003.Fascículo:22). 

No quesito Ocupação (profissão), já figurava o nome de dois Mestres das Primeiras Letras: Quintilianno Jose Pinto, pardo, casado, da idade de 29 anos, morador no Quarteirão de número 1 e Fogo de número 2; Serafim Cardoso, branco, casado, da idade de 55 anos, morador no Quarteirão de número 10 e Fogo de número 6. (Poplin-Minas 1830). Importante observar que, no distrito de Sant'Ana, várias tentativas de ensino foram montadas pela iniciativa privada e mesmo com as dificuldades enfrentadas naquela época, a cidade mostrou ser um grande Polo Educacional. 

Em 13 de maio de 1889, era instalada a primeira escola noturna do arraial, a Sociedade Progresso Santanense, na qual, o Dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira e o farmacêutico João de Araújo Santiago, ministravam aulas gratuitas, sendo somente remunerado o professor Joaquim Marra da Silva (DORNAS, 1936, p.42).

 A Cia. Tecidos Santanense, também conhecida como Fábrica da Cachoeira, estabelecida após o ano d 1891, possuía uma escola dentro da fábrica, sendo ministradas aulas pela professora Jesuína Americana Brasileira e Silva[4]. Já no ano de 1893, era inaugurado o Externato Santanense, pela iniciativa dos senhores Joaquim Augusto Pereira Lima, Francisco Santiago, Cornélio Lima e Joaquim Marra da Silva, o instituto funcionou, porém, pouco tempo. Sobre estes estabelecimentos de iniciativa privada, Ruy Lourenço Filho ressalta: Não confundamos o aspecto de administração geral, que envolve o aspecto político-social, com o da administração escolar, considerada pelo tipo, forma e funcionamento das instituições de ensino. 

Dois tipos fundamentais existem: o da escola isolada e o da escola agrupada. O primeiro é o da escola de um só professor, a que se entregam 40, 50 ou às vezes, mais crianças. Funciona quase sempre em prédio improvisado. A segunda toma o nome de “escolas reunidas” [...]. Aqui o prédio oferece melhores condições de conforto e higiene, mesmo quando adaptado [...]. O material é menos precário. Aí temos a escola comum dos meios urbanos. (FILHO,2002 v.6, p.45).

 No dia 8 de dezembro de 1873 na capital de Minas Gerais, Ouro Preto, era realizada uma reunião dos irmãos da ordem de São Francisco de Assis, para celebrar uma grande festa em consagração "à N.S. da Conceição, padroeira da mesma ordem, com uma grande e variada exposição, cujo resultado será applicado às obras da capella". Um dos vários irmãos devotos que iria recolher assinaturas para ajudar nas obras da capela local era um jovem de dezoito anos de idade de origem portuguesa, Plácido Teixeira Coutinho, que no ano de 1877, contemplava a notícia da sua aprovação do processo de naturalização de cidadão brasileiro, expedida pelo Ministério do Império (Diário do Rio de Janeiro, 1877).

 Passados alguns anos, casado e pai de família, o senhor Plácido estava residindo na freguesia de São Gonçalo do Ibituruna, termo de São João Del Rei, exercendo a profissão de professor público de instrução primária. No dia 23 de maio de 1881, entrava com pedido à inspetoria geral da instrução pública, solicitando sua transferência para a freguesia de Mateus Leme, termo do Pará, solicitação esta, aceita no dia 27 de maio do mesmo ano. A notícia da transferência do professor Plácido para outra freguesia, não agradou a várias pessoas.  Em carta publicada no jornal A Província de Minas, aos 10 de julho do ano de 1881, intitulada Os pais de famílias, via-se claramente a insatisfação e tristeza que a ausência do professor Plácido estaria causando aos pais e alunos daquele local. O motivo desta insatisfação se encontrava retratado na carta: o professor estaria sofrendo grande pressão e perseguição do subdelegado, o Sr. João José Gomes, da freguesia de São Gonçalo do Ibituruna, para que deixasse o cargo à disposição. 

De fato, assim que o professor conseguiu carta de transferência, o filho do subdelegado, Joaquim Ernesto Gomes partiu às presas para o termo de São João Del Rei e constava que "veio nomeado interinamente para reger a cadeira com promessa de ser provido nella oportunamente"Naquela mesma carta os autores ainda expõem que: o filho do subdelegado, ao contrário do professor Plácido, havia captado a antypathia geral, e sobre tudo tido e havido como um chapado analfabeto, sem o menor conhecimento das regras da grammatica e da orthographia, da arithimetica e do systema métrico, da geografia e até do catecismo romano, semelhante nomeação é a morte da escola pública nesta infeliz freguesia pela falta indubitável  de frequência, que já se vão dando com a retirada de alguns meninos para as escolas de Nazareth e de Bom Sucesso, na certeza de que forem lecionados pelo tal Joaquim Ernesto Gomes (A Província de Minas, 1881).

Passados quase sete anos, desde a transferência para a freguesia de Mateus Leme, no dia 26 de janeiro de 1888 era anunciado no jornal A Província de Minas os resultados finais dos exames aplicados nos anos de 1886 e 1887 na Escola Pública Matheus Leme pelo professor Plácido, cujo, alunos eram avaliados em três tipos de grau de classificação: Aprovados com Distinção; Aprovados Plenamente e Aprovados SimplesmenteSobre os tipos de grau de classificação dos exames, assim expressa a doutoranda Fernanda Cristina C. da Rocha, que pesquisou o Grupo Escolar Rocha nos anos 1910-1916:

 Não é possível precisar o que significava cada grau de classificação dos alunos no GEPR. Parece-me que o grau era conferido de acordo com a nota alcançada no exame final. Porém, não é possível saber se a direção seguia rigorosamente as determinações legais. Segundo o regimento, se os alunos lançassem nota igual ou superior a cinco, seriam considerados aprovados. Alcançando nota 5 eram aprovados simplesmente, se obtivessem nota de 6 a 9 eram aprovados plenamente e nota 10, aprovados com distinção. Os alunos que não alcançassem média 5 nos exames de final de ano seriam considerados não preparados, e repetiriam o ano (ROCHA,2016, p.39).

 No dia 28 de setembro do ano de 1889, o jornal A Província de Minas, anunciou que a Instrução Pública estaria exonerando, a pedido, o professor Plácido Teixeira Coutinho de trabalhos escolares na freguesia de Vargem Grande, termo de Juiz de Fora e concedendo sua mudança para o distrito de São Caetano, termo de Queluz. Ali permaneceria o professor Plácido por um período de três anos, sendo transferido depois, a pedido, para o distrito de Sant’Anna do São João Acima (hoje Itaúna), termo do Pará (Jornal A Ordem, 1892). 

Recém-chegado ao distrito de Sant'Ana, o professor Plácido Teixeira Coutinho ministrava aulas noturnas gratuitas para alunos da primeira instrução primária, tendo de início matriculados nove alunos. A época da sua chegada, no início de 1893, as escolas isoladas formadas pela inciativa privada em Sant'Anna do São João Acima, somadas com presença da escola do Estado, eram responsáveis pela cidade e gozavam de grande privilégio na parte educacional. Após cinco anos morando no distrito de Sant'Ana do São João Acima (hoje Itaúna), o professor Plácido TeixeiraCoutinho de cinquenta e quatro anos de idade, mudaria o seu destino.

Em uma manhã do dia 7 de dezembro de 1899, aproximadamente às 10 horas, o desespero beirava ao insuportável do limite e a falência da esperança tornava-se presente. Com isso, "sua morte foi proveniente de suicídio por um tiro de garrucha disparado no ouvido", dentro do cemitério da cidade, sendo o declarante do óbito o Sr. Lindolfo Antônio da Silva. O jornal O Pharol do ano de 1902 noticiou que: "por conta do governo do Estado, vae ser internada no hospício nacional a louca Elisa de Oliveira Coutinho. A desventurada mocinha perdeu a razão por ser iludida com promessa de casamento"Esse teria sido o amargo motivo que há três anos, seu pai ao saber da história e "ralado de desgostos, suicidou-se".

 O professor Plácido Teixeira Coutinho brindou com o destino o golpe amargo da vida, todavia, suas atitudes educativas foram luzes!


 REFERÊNCIAS:

ELABORAÇÃO E PESQUISA: Charles Aquino

ACERVO: Maria Lúcia Mendes, Professor Marco Elísio, Charles Aquino

FILHO, João Dornas. Efemérides Itaunense. Coleção Vila Rica. Ed. João Calazans. Belo Horizonte, MG, 1951.

 APM. Arquivo Público Mineiro: Coleção Leis Mineiras (1835-1889). Disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/leis_mineiras/brtacervo.php?cid=1168  . Acesso em: 20/07/2016.

 ITAÚNA em detalhes: Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa.

POPLIN-MINAS 1830: Lista Nominativa: Distrito de Santana do Rio São João Acima, Topônimo Atual: Itaúna, Termo Pitangui, Comarca Rio das Velhas. Disponível em: http://www.poplin.cedeplar.ufmg.br  .Acesso em:20/07/2016.

FILHO, Ruy Lourenço Lourenço Org. Tendências da Educação Brasileira: Coleção Lourenço Filho v.6, Brasília-DF, Inep/MEC, 2002.

MOREIRA, Lúcio Aparecido. AS FONTES DO MEDO NA EDUCAÇÃO: estudo de caso de uma Escola construída onde existiu um cemitério. Belo Horizonte, 2013, p.23.

ROCHA, Fernanda Cristina Campos: A repetência e a reprovação em um grupo escolar mineiro, nas primeiras décadas do século xx. Revista Intersaberes, vol.11, n.22. Jan –abr 2016. Disponível:http://www.grupouninter.com.br/intersaberes/index.php/revista/article/view/1001 . Acesso em: 20/07/2016.

GIL, Natália e CALDEIRA. Sandra: escola Isolada e Grupo Escolar: a variação das categorias estatísticas no discurso oficial do governo brasileiro e de Minas Gerais. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/estatisticaesociedade/article/view/24543 . Acesso em: 20/07/2016.

SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves. ITAÚNA: sua trajetória política, social, religiosa, econômica e cultural, desde a criação do Arraial de Santana do São João Acima, em 14 de outubro de 1765, até a data do centenário de instalação do município:1765-2002.

Fontes impressas Hemeroteca Digital Brasileira:

A ACTUALIDADE – Ouro Preto, 2 de Julho de 1881 – nº 64, p.1.

A ACTUALIDADE – Ouro Preto, 2 de junho de 1881 – nº 55, p.2.

A ACTUALIDADE – Ouro Preto, 31 de Maio de 1881 – nº 54, p.2

A ACTUALIDADE – Ouro Preto, 31 de Maio de 1881 – nº 54, p.3

A ORDEM – Ouro Preto, 9 de julho de 1892 – nº 164, p.3

A PROVÍNCIA DE MINAS – Ouro Preto, 10 de Julho de 1881 – nº 56, p.3.

A PROVÍNCIA DE MINAS – Ouro Preto, 26 de Janeiro de 1888, n° 511, p.4.

A PROVINCIA DE MINAS – Ouro Preto, 28 de Setembro de 1889 – nº 613, p.2.

DIARIO DE MINAS – 22 de Agosto de 1866 – nº 62, p.1.

DIARIO DE MINAS – Ouro Preto, 16 de Outubro de 1873 – n° 147, p.4.

DIARIO DO RIO DE JANEIRO – Rio de Janeiro, 4 de Julho de 1877 – N°178

LIBERAL MINEIRO – Ouro Preto, 17 de Junho de 1884 – nº 67, p.2.

MINAS GERAES – Ouro Preto, 18 de Março de 1893 – nº 75, p.1.

MINAS GERAES – Ouro Preto, 22 de Março de 1893 – nº 79, p.3.

O PHAROL – Juiz de Fóra, 7 de maio de 1902 – nº 116, p.1.

 [1]O homem que exigia dos paes dos meninos que estes levassem um toco de madeira para se assentarem e uma garrafa d’agua para se dessedentarem, deixando fama de grande algoz dos seus alunos. FILHO. João Dornas: Itaúna – Contribuição para a História do Município, 1936, p.40.

[2] FOGO: Casa ou residência. O distrito possuía 400 fotos, cujo, levantamento incluía os filhos casados e escravos dos moradores.

[3] EXPOSTO: Recém-nascido abandonado pela mãe em outra casa; enjeitado. Geralmente eram colocados nas portas das casas, entregues a orfanatos administrados por freiras.

[4] Jesuína Americana Brasileira e Silva era proprietária de uma escola no distrito de Itatiaiuçu e havia trabalhado em outras escolas nos distritos de Mateus Leme e Entre Rios.

quarta-feira, julho 13, 2016

PRIMEIRO MUSEU DE ITAÚNA

O primeiro museu de Itaúna pertenceu ao comerciante Cel. Francisco Manoel Franco, mais conhecido como Chico Franco, cujo acervo situava-se em sua própria residência, no antigo beco do Padre João (hoje Rua cel. Francisco Manoel Franco, esquina com avenida Getúlio Vargas).

O historiador João Dornas Filho informa em seu livro Efemérides Itaunenses que não deixando nunca de atender à sua vocação de antiquário inteligente e arguto, o que lhe permitiu organizar um pequeno museu, no qual se encontravam peças de elevado valor histórico e real, como belíssima coleção de moedas de cobre do Império Romano e da Colônia do Brasil , e moedas de prata e ouro do Império brasileiro; uma lança autêntica usada pelos cavaleiros da Idade Média; uma curiosíssima miniatura da primeira Constituição do Império, contida numa boceta circular para se trazer no bolso; louças da China e da Índia; armas antigas desde o arco e flecha dos selvagens brasileiros até colubrinas e fuzis mais recentes; quadros, bustos, bibelôs, joias, etc.

Sendo o Curador de seu próprio museu, Chico Franco participava de vários eventos relacionados à exibição de objetos de valores histórico, cultural e artísticos. No ano de 1885 em sua cidade natal, Sabará, o antiquário participou de uma Exposição Regional Sabarense, sendo presenteado com uma medalha de prata e menção honrosa por apresentar os seguintes artefatos: Uma bengala de madeira feita a canivete, uma caveira de veado com chifres cobertos de pelo, dois machados de pedra indígena e uma palma marítima [1].

No livro Itaúna: Contribuição Para a História do Município, o historiador João Dornas Filho exibe uma fotografia [2] referente a dois instrumentos de tortura para escravos, que pertenceram ao museu do Chico Franco, sendo estes: uma Peia de Ferro[3] e um Libambo [4].

O cel. Franco, segundo o historiador itaunense Guaracy de Castro Nogueira, foi uma das personalidades mais atuantes do distrito de Sant’Ana do São João Acima (hoje Itaúna), nas duas últimas décadas do século passado. No ano de 1857, aos 6 de janeiro, nascia Francisco Manoel Franco, que mais tarde se casou, em primeiras núpcias, com a senhora dona Amélia Gonçalves de Sousa, vindo a falecer em 1885. Ainda no mesmo ano, desposou a senhora dona Aurora Gonçalves de Sousa, irmã da falecida. 

No ano de 1878, chegava à Sant’Ana de São João Acima (hoje Itaúna), o cel. Franco, tornando-se um comerciante bem-sucedido na cidade, onde conseguiu adquirir um bom patrimônio e fortuna, todavia, prestou à sua terra adotiva os mais assinalados serviços.  No ano de 1889, em 21 de abril, diretamente vinculado ao Centro Republicano de Ouro Preto, o cel. Franco foi eleito primeiro-secretário.

 Aos 20 de julho de 1890, segundo informa o historiador Guaracy, o cel. Chico Franco era um grande apreciador das belas artes e organizou, juntamente com outros companheiros, a Companhia de Teatro Santanense, tendo o objetivo de construir um prédio destinado a apresentações teatrais e outras diversões públicas.

Comerciante bem estruturado na cidade e de visão empreendedora, já no ano de 1891 aos 23 de outubro, em casa do cidadão Antônio Pereira de Matos, situada à rua Direita (hoje Getúlio Vargas), com vários acionistas presentes e demais autoridades da cidade, assinavam e declaravam constituída a primeira Acta da Assembleia Geral de Instalação da Companhia de Tecidos Santannense [5].  Neste momento, o cel. Francisco Franco era empossado no Conselho Fiscal da empresa, mediante o estatuto da companhia, no Capítulo VIII, Art.40, sendo também, um dos acionistas com o número de 50 ações.

Alcançada a emancipação política e instalado o município em 2 de janeiro de 1902, foi nomeado Coletor Federal, cargo este, que exerceu durante várias épocas até a sua aposentadoria. Participou, em 14 de abril de 1918 da fundação do Clube Itaunense, precursor do atual Automóvel Clube, cujo objetivo era proporcionar diversão aos seus associados e manter um salão para leitura.  O cel. Francisco Manoel Franco veio a falecer no dia 27 de novembro de 1941, com 84 anos de idade.


Por Guaracy de Castro Nogueira: História Oral [6]

Segundo Ilca Dornas de Araújo, neta do cel. Francisco Manoel Franco, quando este morreu, o interventor do Estado Benedito Valadares Ribeiro (hoje seria o cargo de Governador do Estado de Minas Gerais) não quis deixar o acervo do coronel saísse do Estado de Minas Gerais. Foi quando veio a Itaúna um conde siciliano e a referida coleção foi negociada verbalmente e levada para São Paulo.

Naquela ocasião, porque a amante do conde tinha fugido com outro e levado do mesmo o dinheiro disponível, este ficou desesperado e suicidou-se. Então, ao invés do acervo voltar ao seu local de origem, foi deixado lá, tomando rumo ignorado. De tudo, ficou esta história talvez não verdadeira, mas bem bolada, como dizem os italianos.

Apreciando a relação das referidas peças, feita pelo escritor João Dornas Filho, concluímos que as mesmas se realçavam principalmente por ser cunho curioso. Portanto ligavam-se sob dado aspecto à arte e História e não condiziam com nosso contexto local e regional, valorizando o que era autenticamente nosso. Numa reunião ocorrida no gabinete do prefeito Osmando Pereira da Silva, foi de nossa iniciativa a proposta de dar ao atual Museu Municipal de Itaúna o ilustre nome de Francisco Manoel Franco.


Acesso ao Acervo do Chico Franco

Vídeo: Registro do Museu Municipal de Itaúna por Hamilton Pereira. 


Referências:
Organização, Pesquisa e Arte: Charles Aquino
Biblioteca Nacional. Disponível em :< http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.html >
FGV: Fundação Getúlio Vargas: Disponível em< http://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral
FILHO. João Dornas. Itaúna: Contribuição para história do município. 1936,p.34.
FILHO. João Dornas. Efemérides Itaunenses,1951, p.13-14
LOPES. Nei: Dicionário Afro-Brasileiro, p.133.
MOURA. Clóvis: Dicionário da escravidão negra no Brasil, p.164
Jornal: O Estado de Minas. Ouro Preto, 17 de novembro de 1891. Nº 248
Jornal: Província de Minas. Ouro Preto, 5 de dezembro de 1885 N° 294

[1] Jornal: A Província de Minas, p.1.
[2] A fotografia destes instrumentos poderá ser vista também no site da Biblioteca Nacional no endereço do Link :< http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.html >, com o título: Instrumentos de tortura para os escravos [iconográfico], do Museu do cel. Francisco Manoel Franco.

[3] Peia de Ferro: Instrumento para tortura de escravos. Constava de uma espécie de algema ou corrente que prendia os pés do escravo. LOPES, Nei: Dicionário Afro-Brasileiro, p.133.

[4] Libambo: Que em língua bunda significa corrente que era colocado ao pescoço. Nesta corrente de ferro, vai-se perdendo de pouco em pouco espaço cada um dos pretos escravos da maneira seguinte: pelo anel da corrente no espaço competente fazem os sertanejos, e os do comboio passar um pedaço de ferro e com ele à força de pancada fazem outro anel; e sobrepondo as pontas de ferro uma a outra, fica a mão do escravo presa, e metida nesta nova argola.

De ordinário é o libambo lançado na mão direita; porque temem os funidores que, ficando livre a mão direita, podem os escravos com outro ferro, ou ainda abrir com pau o anel que os prende. O libambo das escravas é outro; em separado; e soltas as crianças, a que se dá o nome de crias.  MOURA. Clóvis: Dicionário da escravidão negra no Brasil, p.164.

[5] Jornal: O Estado de Minas. Ouro Preto, 17 de novembro de 1891. Nº 248

[6] O QUE É HISTÓRIA ORAL?
A história oral é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. No Brasil, a metodologia foi introduzida na década de 1970, quando foi criado o Programa de História Oral do CPDOC.

As entrevistas de história oral são tomadas como fontes para a compreensão do passado, ao lado de documentos escritos, imagens e outros tipos de registro. Caracterizam-se por serem produzidas a partir de um estímulo, pois o pesquisador procura o entrevistado e lhe faz perguntas, geralmente depois de consumado o fato ou a conjuntura que se quer investigar.

Além disso, fazem parte de todo um conjunto de documentos de tipo biográfico, ao lado de memórias e autobiografias, que permitem compreender como indivíduos experimentaram e interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de um grupo ou da sociedade em geral. Isso torna o estudo da história mais concreto e próximo, facilitando a apreensão do passado pelas gerações futuras e a compreensão das experiências vividas por outros.

Fundação Getúlio Vargas: Disponível em> http://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral

segunda-feira, julho 04, 2016

CAPELA SANTANENSE


A história da Capela de Santanense é um testemunho de devoção e perseverança da comunidade local, refletindo o espírito coletivo e a dedicação dos moradores e líderes religiosos ao longo dos anos. A ideia de construir uma capela no povoado de Santanense existia há muitos anos, sendo constantemente lembrada, mas frequentemente adiada. Foi somente em 27 de março de 1930, durante a Assembleia Geral Ordinária da Companhia de Tecidos Santanense, que o primeiro passo definitivo foi dado. Nesta ocasião, o Sr. Juvenal Antônio Pereira apresentou uma proposta que foi prontamente aprovada: a Companhia de Tecidos Santanense contribuiria com a quantia de 3.000 réis para a construção da capela, assim que uma oportunidade se apresentasse.

Finalmente, em 17 de abril de 1932, as obras da capela foram iniciadas. Este dia foi marcado por uma missa campal celebrada pelo Reverendo Padre Ignácio Campos, então vigário de Itaúna. Na presença dos diretores da Companhia de Tecidos Santanense, acionistas e operários, a primeira pedra da capela foi abençoada solenemente conforme o Ritual Romano. Após a cerimônia, uma ata foi lavrada, assinada pelos presentes e colocada dentro da pedra fundamental junto com jornais e moedas da época, simbolizando o início oficial da construção.

As principais assinaturas incluíam: Diretor presidente da Companhia: José Gonçalves de Sousa; Diretor gerente da Companhia: Augusto Gonçalves de Sousa  e o Prefeito Municipal: Farmacêutico Arthur Contagem Vilaça. A comunidade recebeu a doação de uma área de 810 metros quadrados para a construção da capela e um lote de 8x45 metros para a casa paroquial. As escrituras dessas doações foram registradas no cartório José Santiago, sob o número 2.560, no livro 3-H, página 176. A construção da capela custou aproximadamente 18.000 cruzeiros, com a Companhia de Tecidos Santanense contribuindo com cerca de metade desse valor.

Com a capela concluída, o Sagrado Coração de Jesus foi proclamado padroeiro do povoado. A imagem foi abençoada e entronizada em 19 de junho de 1933. Em 17 de junho de 1934, a capela foi solenemente abençoada pelo Reverendo Padre José Augusto Bastos, então vigário de Itaúna. Desde então, a festa do Coração de Jesus era celebrada anualmente com grande pompa. 

O serviço espiritual da capela foi inicialmente dirigido pelo Padre Ubaldo Anselmo da Silveira, capelão da Santa Casa "Manoel Gonçalves", que dedicou-se de 1933 a 1937. Padre Ubaldo, conhecido por sua bondade e dedicação às crianças, organizou com sucesso a missa dialogada das crianças. Em março de 1937, o Reverendo Padre Everaldo Molengraaff foi nomeado auxiliar do vigário de Itaúna e demonstrou grande interesse por Santanense, introduzindo uma missa dominical e organizando o catecismo para as crianças, que floresceu com alegria.

Em 30 de janeiro de 1943, às 19 horas, na Igreja Matriz de Itaúna, Padre José Ferreira Neto foi empossado como vigário de Santanense. Naquela época, o povoado contava com pouco mais de mil habitantes, número que cresceu para cerca de quatro mil nos anos subsequentes. A Capela de Santanense não foi apenas um edifício religioso, mas um marco da fé e do empenho comunitário, representando a união e a espiritualidade que moldaram e continuaram a inspirar a vida do povoado.


Organização e pesquisa: Charles Aquino
Fonte: Paróquia do Coração de Jesus de Santanense: Histórico da Paróquia de Santanense, pag.26