TRIBOS TROPEIROS
TROPAS
SANT'ANNA
SÃO JOÃO ACIMA
O povoamento da região
compreendida pelo atual distrito da cidade de Itaúna deve de ter tido início no
século XVIII, quando ao sul já existiam as explorações de ouro de Itatiaiuçu e
mais ao norte, em Pitangui . A região entre estes dois núcleos de população,
compreendendo o futuro arraial de Santana, atualmente distrito da cidade de
Itaúna, já devia ter os seus habitantes, embora nesta época ninguém cuidasse de
agricultura, estando todos voltados para as pesquisas do ouro. Em épocas mais
remotas, não resta dúvida, esta região foi povoada por indígenas. Zona muito
irrigada, coberta de matas, com abundancia de pesca e caça, deve de ter sido propícia ao
florescimento indígena . Nas escavações que fizemos em Santanense e na estrada
Itaúna - Divinópolis, na fazenda do Sr. Antônio Chaves, encontramos muitos
objetos e utensílios indígenas, como contas, machados de pedra e pedaços de
materiais cerâmicos.
Não se pode dizer com exatidão quais as tribos de índios
que habitaram o território itaunense . Os indígenas brasileiros não eram
sedentários, o seu nomadismo variava
quase que com as estações . Estou certo
que, com o povoamento do litoral , logo após a descoberta do país, as tribos
que habitavam o litoral, aliás as mais
numerosas , foram empurradas para o interior , à medida que o povoamento ia se
realizando. O nosso primitivo território, futuro arraial de Santana e
arredores, no correr dos anos, deve ter sido povoado por tribos diversas, muitas
delas em trânsito para o interior do País. O de que não temos dúvida é que a
raça era a dos Tupis, mais civilizados relativamente. Os Tapuias, mais ferozes,
habitavam o planalto central, entre 5 e 20 º de latitude sul.
Pitangui e Itatiaiuçu foram os núcleos iniciais de todo o
povoamento desta parte do Estado. Itatiaiuçu em 1703 já era curato. A Vila do
Infante, hoje, Pitangui, foi criada em 1715. Minas ainda formava uma só
capitania com São Paulo, desmembrados em 1722.
Gilberto Amado querendo salientar o atraso do Brasil em 1822, ano da
independência , mais de um século depois da criação da Vila do Infante , assim
se expressa : - " a população do Brasil em 1822, fazendo um cálculo sobre
as estatísticas incompletas da época , não podia exceder de 4.500.000 habitantes, dos
quais 800.000 índios bravios, 2.200.000 pessoas livres 3 1.500.000 escravos,
índios e negros , adstritos ao serviço da terra". [...]
Santana de São João Acima
foi sempre pouso de tropas, cruzamento de caminhos que vinham do Rio de Janeiro
em rumo do Sertão e vice- versa , trazendo sal, armarinhos e tecidos. A nossa
indústria de tecidos, iniciada com o notável empreendimento da Cia. Tecidos
Santanense , data de 1891, talvez tenha se originado desta movimentação
comercial do arraial de Santana , que
nos trouxe novas ideias e salientava as necessidades do sertão . Santana
tornou-se assim um ponto de contato do
litoral com o sertão , que na época atraia os pioneiros. Os santanenses de
então eram pioneiros, foram os precursores da marcha para o oeste, tão em voga
nos dias de hoje. meu pai, com menos de 20 anos , fez muitas viagens a Goiás,
visando a compra de bois .
Eram viagens penosas ao sol e nas chuvas durante
três meses ou mais . Sinfrônio Nogueira
Machado , morreu em Goiás , Wesquival Nogueira e muitos outros, atraídos por
forte vocação de bandeirantes. Todas as boiadas vindas de Goiás faziam pião em
Santana e eram enviadas ao Rio de Janeiro, sendo Sítio na Central a estação de
embarque . A mentalidade itaunense era portanto de sertanistas , de
bandeirantes , no rumo oeste do País . Mais tarde é que , com a localização da
Capital em Belo Horizonte , tivemos nela um novo centro de atração. Os itaunenses de hoje emigram para Belo
Horizonte , atraídos pela grandeza da nova Capital, perdendo aos pouco a fibra
de sertanistas e pioneiros que herdaram dos seus maiores .
Havia tropeiros que possuíam ate dez lotes de burros, sendo que no oeste
mineiro, um lote era constituído de sete animais. Daí se calcula, o volume de
interesses econômicos e sociais que empunhava um simples tropeiro naqueles
tempos. E os mais inteligentes e operosos adotavam roteiros magníficos, com o
fim de melhor aproveitar o esforço da romagem. Um, para exemplo - Joaquim
Gonçalves de Freitas, de Santana do São João Acima, hoje Itaúna - obedecia, no
tempo da seca, o alucinantes itinerário que se segue: partia de Santana com a
tropa carregada de gêneros e tecidos de algodão da incipiente indústria local
com destino ao porto de Estrela, no fundo da baía de Guanabara.
É claro que
havia fretes para as localidades do percurso, mas o destino era o velho porto
fluvial, onde recebia cargas para o norte da Mata do Rio e sul do Espírito
Santo, procurando Grão-Mogol, que ele chamava de Grã-Magu; ali recebia
carregamento de algodão e couros para retornar ao porto da Estrela, onde
finalmente se provia de cargas com destino à Santana e praças de permeio.
Gastava nesse giro os seis meses da seca.
FONTES/TEXTOS :
Osmário Soares Nogueira - Revista Acaiaca - 1954 Pags 19,20,21
TROPAS E TROPEIROS : João Dornas Filho (Academia
Mineira de letras)
Universidade Federal de Minas Gerais - Conferências pronunciadas
Primeiro Seminário de Estudos Mineiros, realizado de 3 a 12 de abril de 1956 Pág : 97
Acervo: Professor Marco Elísio Chaves Coutinho
Universidade Federal de Minas Gerais - Conferências pronunciadas
Primeiro Seminário de Estudos Mineiros, realizado de 3 a 12 de abril de 1956 Pág : 97
Acervo: Professor Marco Elísio Chaves Coutinho
Organização: Charles Aquino