domingo, dezembro 15, 2013

TROPEIROS EM SANTANA

TRIBOS TROPEIROS TROPAS
SANT'ANNA SÃO JOÃO ACIMA

   O povoamento da região compreendida pelo atual distrito da cidade de Itaúna deve de ter tido início no século XVIII, quando ao sul já existiam as explorações de ouro de Itatiaiuçu e mais ao norte, em Pitangui . A região entre estes dois núcleos de população, compreendendo o futuro arraial de Santana, atualmente distrito da cidade de Itaúna, já devia ter os seus habitantes, embora nesta época ninguém cuidasse de agricultura, estando todos voltados para as pesquisas do ouro. Em épocas mais remotas, não resta dúvida, esta região foi povoada por indígenas. Zona muito irrigada, coberta de matas, com abundancia de pesca  e caça, deve de ter sido propícia ao florescimento indígena . Nas escavações que fizemos em Santanense e na estrada Itaúna - Divinópolis, na fazenda do Sr. Antônio Chaves, encontramos muitos objetos e utensílios indígenas, como contas, machados de pedra e pedaços de materiais cerâmicos. 
   Não se pode dizer com exatidão quais as tribos de índios que habitaram o território itaunense . Os indígenas brasileiros não eram sedentários, o seu   nomadismo variava quase que com as estações .  Estou certo que, com o povoamento do litoral , logo após a descoberta do país, as tribos que habitavam o litoral, aliás as  mais numerosas , foram empurradas para o interior , à medida que o povoamento ia se realizando. O nosso primitivo território, futuro arraial de Santana e arredores, no correr dos anos, deve ter sido povoado por tribos diversas, muitas delas em trânsito para o interior do País. O de que não temos dúvida é que a raça era a dos Tupis, mais civilizados relativamente. Os Tapuias, mais ferozes, habitavam o planalto central, entre 5 e 20 º de latitude sul.
   Pitangui e Itatiaiuçu  foram os núcleos iniciais de todo o povoamento desta parte do Estado. Itatiaiuçu em 1703 já era curato. A Vila do Infante, hoje, Pitangui, foi criada em 1715. Minas ainda formava uma só capitania com São Paulo, desmembrados em 1722.  Gilberto Amado querendo salientar o atraso do Brasil em 1822, ano da independência , mais de um século depois da criação da Vila do Infante , assim se expressa : - " a população do Brasil em 1822, fazendo um cálculo sobre as estatísticas incompletas da época , não  podia exceder de 4.500.000 habitantes, dos quais 800.000 índios bravios, 2.200.000 pessoas livres 3 1.500.000 escravos, índios e negros , adstritos ao serviço da terra".  [...]
   Santana de São João Acima foi sempre pouso de tropas, cruzamento de caminhos que vinham do Rio de Janeiro em rumo do Sertão e vice- versa , trazendo sal, armarinhos e tecidos. A nossa indústria de tecidos, iniciada com o notável empreendimento da Cia. Tecidos Santanense , data de 1891, talvez tenha se originado desta movimentação comercial do arraial  de Santana , que nos trouxe novas ideias e salientava as necessidades do sertão . Santana tornou-se assim  um ponto de contato do litoral com o sertão , que na época atraia os pioneiros. Os santanenses de então eram pioneiros, foram os precursores da marcha para o oeste, tão em voga nos dias de hoje. meu pai, com menos de 20 anos , fez muitas viagens a Goiás, visando a compra de bois . 
   Eram viagens penosas ao sol e nas chuvas durante três meses ou mais . Sinfrônio  Nogueira Machado , morreu em Goiás , Wesquival Nogueira e muitos outros, atraídos por forte vocação de bandeirantes. Todas as boiadas vindas de Goiás faziam pião em Santana e eram enviadas ao Rio de Janeiro, sendo Sítio na Central a estação de embarque . A mentalidade itaunense era portanto de sertanistas , de bandeirantes , no rumo oeste do País . Mais tarde é que , com a localização da Capital em Belo Horizonte , tivemos nela um novo centro de atração.  Os itaunenses de hoje emigram para Belo Horizonte , atraídos pela grandeza da nova Capital, perdendo aos pouco a fibra de sertanistas e pioneiros que herdaram dos seus maiores .
   Havia tropeiros que possuíam ate dez lotes de burros, sendo que no oeste mineiro, um lote era constituído de sete animais. Daí se calcula, o volume de interesses econômicos e sociais que empunhava um simples tropeiro naqueles tempos. E os mais inteligentes e operosos adotavam roteiros magníficos, com o fim de melhor aproveitar o esforço da romagem. Um, para exemplo - Joaquim Gonçalves de Freitas, de Santana do São João Acima, hoje Itaúna - obedecia, no tempo da seca, o alucinantes itinerário que se segue: partia de Santana com a tropa carregada de gêneros e tecidos de algodão da incipiente indústria local com destino ao porto de Estrela, no fundo da baía de Guanabara. 
   É claro que havia fretes para as localidades do percurso, mas o destino era o velho porto fluvial, onde recebia cargas para o norte da Mata do Rio e sul do Espírito Santo, procurando Grão-Mogol, que ele chamava de Grã-Magu; ali recebia carregamento de algodão e couros para retornar ao porto da Estrela, onde finalmente se provia de cargas com destino à Santana e praças de permeio. Gastava nesse giro os seis meses da seca.


FONTES/TEXTOS :
Osmário Soares Nogueira - Revista Acaiaca - 1954  Pags 19,20,21
TROPAS E TROPEIROS : João Dornas Filho (Academia Mineira de letras) 
Universidade Federal de Minas Gerais - Conferências pronunciadas
Primeiro Seminário de Estudos Mineiros, realizado de 3 a 12 de abril de 1956  Pág : 97
Acervo: Professor Marco Elísio Chaves Coutinho
Organização: Charles Aquino