domingo, dezembro 29, 2013

MONSENHOR HILTON

Camareiro Secreto Extranumerário da Santa Sé
"Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem" João 10.14

Estamos em 1912, no último dia 31 de dezembro, nas despedidas do ano velho, que acena para o ano novo de 1913. Nos derradeiros momentos, quando todos festejam a passagem do ano, no velho casarão da Avenida Getúlio Vargas, Dona Custódia de Souza Moreira festeja de um modo todo peculiar, trazendo ao mundo mais um herdeiro, de uma prole numerosa de 15 filhos.

Seu pai, Virgílio Gonçalves de Souza Moreira o deixou muito cedo, com apenas 1 ano e 8 meses. São suas essas palavras: "Como seria bom, se eu pudesse ter conversado e discutido vários assuntos com meu pai".

Menino estudioso, inteligência brilhante, começou seus estudos no Grupo Escolar Dr. Augusto Gonçalves, surpreendeu por sua rara inteligência, ao ser alfabetizado antes dos sete anos, só porque ia à escola com sua irmã, professora, e lá ficava brincando embaixo da mesa. Gostava de trabalhar, nos momentos de folga escolar, no Armazém de seu cunhado Augusto Rodrigues, como também no Armazém de seu outro cunhado Cícero Franco. O menino Hilton transportava também, a correspondência dos correios, fazendo longas caminhadas.

Sentiu vocação para ser padre e, apoiado pela família, principalmente sua mãe e o então vigário Padre Cornélio Pinto da Fonseca. Foi estudar em Belo Horizonte, no Seminário do Coração Eucarístico de Jesus, pelos idos de 1925. Continuava bom aluno, obediente e aplicado. Sentindo, no entanto, dúvidas sobre sua vocação, pediu permissão à sua mãe, para se retirar do Seminário. Claro, essa sua decisão entristeceu muito aos seus familiares, mas foi aceita e respeitada. Fez opção pela carreira de professor indo lecionar em Sete Lagoas. Nessa época escreveu um romance ainda inédito intitulado "A Voz do Coração".

Sua mãe adoeceu e o fez voltar para Itaúna para fazer-lhe companhia nos últimos anos de sua vida. Passou a lecionar Português e Matemática na Escola Normal Oficial de Itaúna. Durante toda a sua vida gostou muito das coisas do campo e, seu tempo livre empregava-o como hortelão, cuidando de uma enorme horta no fundo da sua casa.

Pouco depois da morte de sua mãe, em 1936, o jovem Hilton sentiu novamente o chamado de Deus e, agora, sobe os degraus do Seminário muito mais firme, convicto da vocação e mais ligado à Deus. As dúvidas e as indecisões ficaram para trás. Padre Hilton viveu sua vida dedicada à Deus plenamente!

Seus estudos e orações foram coroados de êxito com sua ordenação em 1944, na Matriz de Sant'Anna, com uma grande festa. Teve por padrinhos seu irmão Manoel Gonçalves de Sousa e o Prefeito da cidade de Itaúna Dr. Lincoln Nogueira Machado. A cerimônia foi oficializada por sua Exº. Revmº. Dom Antônio dos Santos Cabral, Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte.

Veio trabalhar em sua cidade na Paróquia do Coração de Jesus de Santanense, onde seria sua última paróquia. Com seu dinamismo e disponibilidade, dedicou -se inteiramente ao serviço de Deus. Foi um percurso brilhante por suas realizações, tanto no campo espiritual, quanto no administrativo. Homem íntegro, com imensa capacidade de trabalho, sabia ser culto, sem ser pedante; polido, sem ser piegas; forte, sem ser autoritário; profundamente educado, sem ser bajulador.

No dia 20 de fevereiro de 1985 uma avalanche desabou sobre todos nós! Era o último dia de carnaval no Grêmio Paroquial de Santanense, a música tocava alegremente e os foliões dançavam despedindo-se do carnaval. E veio a notícia fulminante, que ninguém esperava ou acreditava:  Monsenhor Hilton morreu!

Foi uma morte rápida, como ele sempre desejou! E ele nos deixou! De um momento para o outro ficamos órfãos, perdemos nosso pai. Nunca vimos uma quarta-feira de cinzas tão cinza! O silêncio rolou pelas ruas, os soluços retumbavam, as lágrimas escorreram pelas faces das pessoas incrédulas, tristes, familiares, amigos, enfim, todos que tiveram o privilégio de usufruir de sua companhia e amizade.

 No momento de sua morte ele estava em sua casa à Rua Acácio Baeta nº 99 em Santanense, com sua sobrinha, quase filha, Marisa Gonçalves de Sousa. No entanto, sua passagem, em nossa paróquia, nos trouxe imensos benefícios espirituais, já que era preocupadíssimo com suas ovelhas, as quais muito amava.
Transmitia a fé e os ensinamentos como ninguém e trabalhou arduamente pelo reino de Deus. Eternamente continuará vivo em nossas lembranças e em nossos corações!

Camareiro Secreto Extranumerário da Santa Sé

Por ato recente da Santa Sé, acaba de ser elevado à categoria de Camareiro Secreto Extranumerário o Exmo. E Revmo. Monsenhor Hilton Gonçalves de Sousa. Esse sacerdote nasceu em Itaúna, aos 31 de dezembro de 1912, cursou o Seminário de Belo Horizonte e ordenou-se em sua terra natal em 1º de novembro de 1941. Conferiu-lhe o Presbiterado o Exmo e Revmo. Dom Antônio, dos Santos Cabral. Exerceu diversos cargos relevantes na Arquidiocese de Belo Horizonte, entre os quais o de Reitor do Seminário de Belo Horizonte. Trabalhou intensamente para a organização da diocese de Divinópolis e, atualmente desempenha as funções de Vigário Geral do Bispado de D. Cristiano de Araújo Pena.
Jornal O Diário, 21 de novembro 1959


REFERÊNCIAS:
Texto & acervo:  Marisa Gonçalves de Sousa
Paróquia Coração de Jesus Santanense - Itaúna mg.
Pesquisa e Organização: Charles Aquino.

sexta-feira, dezembro 20, 2013

AUGUSTO GONÇALVES (MEDICINA)

A Formatura do Dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira

Em um dia memorável da história, sob os auspícios do Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, Dom Pedro II, um jovem itaunense alcançou um marco significativo em sua vida. Dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira, nascido em 29 de julho de 1861 em Sant’Anna de S. João Acima, na Província de Minas Gerais, filho de Manuel José de Souza Moreira e Anna Joaquina de Souza, estava prestes a ser reconhecido como um médico formado pela prestigiada Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

A cerimônia de colação de grau, realizada em 19 de janeiro de 1888, foi conduzida pelo eminente Barão de S. Salvador de Campos. O Barão, um Grande do Império, Conselheiro de Sua Majestade o Imperador, Cavaleiro da Ordem da Rosa, Médico da Imperial Câmara, Doutor em Medicina, Lente de Matéria Médica e Terapêutica e Vice-Diretor da Faculdade, representava a autoridade máxima e a tradição da medicina brasileira.

No majestoso salão da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, decorado com elegância para a ocasião, Dr. Augusto foi convocado a defender suas teses perante uma banca rigorosa de professores e especialistas. Demonstrando um conhecimento profundo e uma dedicação exemplar, ele foi plenamente aprovado, conquistando o direito de receber seu diploma de médico.

O documento, assinado pelo Barão de S. Salvador de Campos em 26 de janeiro de 1888, conferia a Dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira todas as prerrogativas e responsabilidades da profissão médica, conforme as leis do Império. Este diploma não era apenas um papel; representava anos de estudo, sacrifício e determinação. Era um símbolo da confiança do Império em suas capacidades e da sua prontidão para servir a sociedade com seu conhecimento e habilidades médicas.

A formatura de Dr. Augusto marcou o início de uma carreira brilhante, pautada pela ética, pela compaixão e pelo compromisso com a saúde e o bem-estar de seus pacientes. Ele retornou à sua terra natal, onde aplicou seus conhecimentos e se tornou uma figura respeitada e admirada na comunidade. Esta conquista, realizada em nome de Sua Majestade Dom Pedro II, não apenas elevou a posição de Dr. Augusto na sociedade, mas também contribuiu para o progresso da medicina no Brasil, inspirando futuras gerações de médicos e profissionais de saúde a seguir seus passos.

Assim, a história da formatura de Dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira permanece como um testemunho eloquente do valor do esforço acadêmico e do impacto duradouro que um médico dedicado pode ter em sua comunidade e além.


Em nome de sua Magestade o Senhor Dom Pedro II
 Imperador Constitucional e Denfensor Perpétuo do Brazil

FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO
Eu Barão de S. Salvador de Campos, Grande do Império, do Conselho de S.M. o Imperador, Cavalheiro da Ordem da Rosa, Médico da Imperial Câmara, Doutor em Medicina, Lente de Matéria médica e Therapeutica e Vice- Diretor da Faculdade , etc, etc, etc.
Tendo presente o termo de aptidão ao Gráo de doutor, que obteve O Sr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira, natural de Sant'Anna de S. João Acima (Provincia de Minas Geraes) , filho de Manuel José de Souza Moreira e Anna Joaquina de Souza, nascido no dia 29 de Julho de 1861, e o de collação do Gráo que recebeu no dia 19 de Janeiro de 1888, depois de ter sido approvado plenamente em defesa de Theses; e usando da autoridade que me conferem os Estatutos para que possa exercer a respectiva profissão, com todas as prerogativas concedidas pelas leis do Império.
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, 26 de Janeiro de 1888.

Animação fotografia: MyHeritage

Referência:
Acervo: Afonso Henrique da Silva Lima
Organização e pesquisa:  Charles Aquino 
Narrativa histórica baseada em fatos reais: Charles Aquino
These Medicina Doutor Augusto – Rio de Janeiro 1887

terça-feira, dezembro 17, 2013

RUA SILVA JARDIM

Antônio da Silva Jardim
(Capivari, RJ, 1860 - Vesúvio, Itália, 1891)

Nasceu no município de Capivari, hoje Silva Jardim, no Rio de Janeiro, no dia 18 de agosto de 1860.  Filho de Gabriel Jardim, professor primário e Felismina Leopoldina de Mendonça. Aos cinco anos aprendeu a ler em casa, na escola do pai, e aos seis escrevia e passava horas estudando. Em 1871, completa os estudos primários na Escola Pública da Vila de Capivari. Estuda no Colégio Silva Pontes no Rio de Janeiro.

Em 1874, matricula-se no Colégio São Bento, onde estuda português, francês, geografia e latim. Era responsável pela redação do jornal estudantil Labarum litterario. Com quinze anos publica um artigo sobre Tiradentes, no qual elogia a rebeldia contra o absolutismo.

Por falta de recursos, deixa a república e vai morar em Santa Tereza, com um primo, estudante de medicina. Em 1877, recebe do pai o valor de trezentos réis e embarca para São Paulo para cursar a Faculdade de Direito do Largo São Francisco.

Em 1878, inicia sua vida acadêmica, mora na república, participa de reuniões das sociedades literárias. Inicia grande atividade literária. Passa a lecionar na Escola Normal e se emprega como revisor do jornal Tribuna Liberal. Em 1881 aderiu à filosofia de Auguste Comte e inaugurou o primeiro centro positivista de São Paulo. Formado em 1882, começa a advogar. Em 1883, casa-se com Ana Margarida, filha do conselheiro Martim Francisco de Andrada.

 Foi um grande protagonista da abolição e era um abolicionista radical, disposto a burlar qualquer expediente jurídico que barrasse a libertação dos escravos. Para ele, a lei da abolição deveria ter – como de fato teve – apenas dois artigos. “A questão se resolveria assim: o primeiro artigo diria: fica abolida a escravidão no Brasil; e o segundo, pedimos perdão ao mundo por não tê-lo feito há mais tempo”. Silva Jardim foi responsável pela fuga de dezenas de escravos de fazendas paulistas."

Em 1888, com a crise do império, participa de comícios em prol da República. Por sua iniciativa pessoal, realizou em Santos, em 28 de janeiro, o primeiro comício republicano do país. A partir de então e até o fim de 1889, dedicou-se à campanha republicana. Percorreu diversas cidades fluminenses, paulistas e mineiras para divulgar o novo regime político e promoveu, também no Rio de Janeiro, numerosos comícios. Ao mesmo tempo, colaborava na Gazeta de Notícias.

Por seu radicalismo, foi excluído do Partido Republicano. Depois de instalada a República vai aos poucos sendo afastado do primeiro governo republicano. Em 1890, candidata-se para compor o Congresso Constituinte, pelo Distrito Federal, mas é derrotado. Retira-se da vida política. No dia 2 de outubro do mesmo ano, vai para Europa, em companhia da família e dos amigos Carneiro de Mendonça e Américo de Campos.

No dia 1 de julho de 1891, estando em Pompéia, na Itália, quer ver o Vesúvio. Acompanhado de Carneiro de Mendonça, arranjam um guia e foram até a cratera, aproximam-se da borda, mesmo tendo sido avisado de que o vulcão poderia entrar em erupção a qualquer momento, escorregou, caiu e foi tragado por uma fenda que se abriu na cratera da montanha, deixando o motivo dessa morte envolvido em mistério, pois a imprensa da época insinuou que ele poderia ter suicidado por desilusão política.

Assim, um vulcão lá na Europa distante, teria influenciado os rumos da República brasileira ao ceifar a vida de um ativista político que era uma esperança importante por seus pronunciamentos e atitudes diante dos novos desafios que a nação enfrentava. Sem contar que em inúmeras cidades do país existem praças, ruas e avenidas em homenagem a este grande homem.



SILVA JARDIM

SILVA JARDIM E JOSÉ DO PATROCÍNIO - EDUARDO BUENO


Referências:
FILHO, João Dornas -  Livro Silva Jardim
FILHO, João Dornas. Efemérides Itaunenses. Coleção Vila Rica, Ed. João Calazans, 1951, p.252.
Acervo: Ângela Penido / Charles Aquino
Texto: Itaúna em Detalhes -Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa (Guaracy de Castro Nogueira), fascículo, nº 21.
Pesquisa e Organização: Charles Aquino, graduando em História pela Universidade do Estado de Minas Gerais / FUNEDI Campus da Fundação Educacional De Divinópolis.

domingo, dezembro 15, 2013

TROPEIROS EM SANTANA

TRIBOS TROPEIROS TROPAS
SANT'ANNA SÃO JOÃO ACIMA

   O povoamento da região compreendida pelo atual distrito da cidade de Itaúna deve de ter tido início no século XVIII, quando ao sul já existiam as explorações de ouro de Itatiaiuçu e mais ao norte, em Pitangui . A região entre estes dois núcleos de população, compreendendo o futuro arraial de Santana, atualmente distrito da cidade de Itaúna, já devia ter os seus habitantes, embora nesta época ninguém cuidasse de agricultura, estando todos voltados para as pesquisas do ouro. Em épocas mais remotas, não resta dúvida, esta região foi povoada por indígenas. Zona muito irrigada, coberta de matas, com abundancia de pesca  e caça, deve de ter sido propícia ao florescimento indígena . Nas escavações que fizemos em Santanense e na estrada Itaúna - Divinópolis, na fazenda do Sr. Antônio Chaves, encontramos muitos objetos e utensílios indígenas, como contas, machados de pedra e pedaços de materiais cerâmicos. 
   Não se pode dizer com exatidão quais as tribos de índios que habitaram o território itaunense . Os indígenas brasileiros não eram sedentários, o seu   nomadismo variava quase que com as estações .  Estou certo que, com o povoamento do litoral , logo após a descoberta do país, as tribos que habitavam o litoral, aliás as  mais numerosas , foram empurradas para o interior , à medida que o povoamento ia se realizando. O nosso primitivo território, futuro arraial de Santana e arredores, no correr dos anos, deve ter sido povoado por tribos diversas, muitas delas em trânsito para o interior do País. O de que não temos dúvida é que a raça era a dos Tupis, mais civilizados relativamente. Os Tapuias, mais ferozes, habitavam o planalto central, entre 5 e 20 º de latitude sul.
   Pitangui e Itatiaiuçu  foram os núcleos iniciais de todo o povoamento desta parte do Estado. Itatiaiuçu em 1703 já era curato. A Vila do Infante, hoje, Pitangui, foi criada em 1715. Minas ainda formava uma só capitania com São Paulo, desmembrados em 1722.  Gilberto Amado querendo salientar o atraso do Brasil em 1822, ano da independência , mais de um século depois da criação da Vila do Infante , assim se expressa : - " a população do Brasil em 1822, fazendo um cálculo sobre as estatísticas incompletas da época , não  podia exceder de 4.500.000 habitantes, dos quais 800.000 índios bravios, 2.200.000 pessoas livres 3 1.500.000 escravos, índios e negros , adstritos ao serviço da terra".  [...]
   Santana de São João Acima foi sempre pouso de tropas, cruzamento de caminhos que vinham do Rio de Janeiro em rumo do Sertão e vice- versa , trazendo sal, armarinhos e tecidos. A nossa indústria de tecidos, iniciada com o notável empreendimento da Cia. Tecidos Santanense , data de 1891, talvez tenha se originado desta movimentação comercial do arraial  de Santana , que nos trouxe novas ideias e salientava as necessidades do sertão . Santana tornou-se assim  um ponto de contato do litoral com o sertão , que na época atraia os pioneiros. Os santanenses de então eram pioneiros, foram os precursores da marcha para o oeste, tão em voga nos dias de hoje. meu pai, com menos de 20 anos , fez muitas viagens a Goiás, visando a compra de bois . 
   Eram viagens penosas ao sol e nas chuvas durante três meses ou mais . Sinfrônio  Nogueira Machado , morreu em Goiás , Wesquival Nogueira e muitos outros, atraídos por forte vocação de bandeirantes. Todas as boiadas vindas de Goiás faziam pião em Santana e eram enviadas ao Rio de Janeiro, sendo Sítio na Central a estação de embarque . A mentalidade itaunense era portanto de sertanistas , de bandeirantes , no rumo oeste do País . Mais tarde é que , com a localização da Capital em Belo Horizonte , tivemos nela um novo centro de atração.  Os itaunenses de hoje emigram para Belo Horizonte , atraídos pela grandeza da nova Capital, perdendo aos pouco a fibra de sertanistas e pioneiros que herdaram dos seus maiores .
   Havia tropeiros que possuíam ate dez lotes de burros, sendo que no oeste mineiro, um lote era constituído de sete animais. Daí se calcula, o volume de interesses econômicos e sociais que empunhava um simples tropeiro naqueles tempos. E os mais inteligentes e operosos adotavam roteiros magníficos, com o fim de melhor aproveitar o esforço da romagem. Um, para exemplo - Joaquim Gonçalves de Freitas, de Santana do São João Acima, hoje Itaúna - obedecia, no tempo da seca, o alucinantes itinerário que se segue: partia de Santana com a tropa carregada de gêneros e tecidos de algodão da incipiente indústria local com destino ao porto de Estrela, no fundo da baía de Guanabara. 
   É claro que havia fretes para as localidades do percurso, mas o destino era o velho porto fluvial, onde recebia cargas para o norte da Mata do Rio e sul do Espírito Santo, procurando Grão-Mogol, que ele chamava de Grã-Magu; ali recebia carregamento de algodão e couros para retornar ao porto da Estrela, onde finalmente se provia de cargas com destino à Santana e praças de permeio. Gastava nesse giro os seis meses da seca.


FONTES/TEXTOS :
Osmário Soares Nogueira - Revista Acaiaca - 1954  Pags 19,20,21
TROPAS E TROPEIROS : João Dornas Filho (Academia Mineira de letras) 
Universidade Federal de Minas Gerais - Conferências pronunciadas
Primeiro Seminário de Estudos Mineiros, realizado de 3 a 12 de abril de 1956  Pág : 97
Acervo: Professor Marco Elísio Chaves Coutinho
Organização: Charles Aquino

sexta-feira, dezembro 13, 2013

PADRE EUSTÁQUIO

Fundação do Bairro Padre Eustáquio

Foi o Padre Eustáquio, que na época prestava serviços a Deus na paróquia do bairro Carlos Prates , que tem hoje o seu nome, em Belo Horizonte, quem por volta de 1942, deu a bênção à pedra fundamental da Companhia Nacional de Ferro Puro, que estava projetada para ser implantada em Itaúna, em terreno que fora da fazenda do Coronel Arthur Vilaça, sendo prefeito o Dr. Lincoln Nogueira Machado, quando a Prefeitura Municipal de Itaúna entraria com o terreno.
Padre Eustáquio ficou hospedado na residência do Dr. Antônio Augusto de Lima Coutinho, oportunidade em que , no dia  seguinte ao seu pouso, uma menina naturalmente curiosa, estando em casa do Dr. Coutinho, olhou pelo buraco da fechadura do quarto de hóspede e viu que o seu leito estava intocável e que ele estava dormindo no chão.
Estavam à frente deste projeto em Itaúna o Dr. Lincoln Nogueira Machado, Dr. Antônio Augusto de Lima Coutinho, Arthur Contagem Vilaça e outros. Como o Banco do Brasil S.A. não forneceu recursos para o projeto em Itaúna, os mesmos foram aplicados em Volta Redonda (São Paulo).  E a pedra fundamental, com jornais da época ,moedas e outros acervos constituídos de documentos da época, foram então transferidos para onde o Padre Luiz Turkenburg projetara a nova matriz, por volta de 1958.
Mais tarde, no final da década de 40, Geraldo Alves Parreiras  decidiu implantar um bairro com o nome de Vila Padre Eustáquio , onde teria sido a Companhia Nacional de Ferro Puro, criando também a Siderúrgica  Itatiaia e a Fergás.
A vinda do Padre Eustáquio ensejou que ele retornasse a Itaúna para pregar em um retiro espiritual para as mães itaunenses, no primeiro ano do paroquiato do Pe. josé Neto , em 26 de julho de 1943.
Cada participante recebeu um santinho com os dizeres " ser mãe extremosa não é fazer todas as vontades dos filhos e deixá-los crescer sem cultura, como ervas ruins do campo. Ser verdadeiramente mãe é cuidar da saúde e bem estar dos filhos, não se esquecendo de sua alma infantil. É corrigir os seus defeitos em criança. antes eles chorem em criança do que depois, quando forem homens"
Estas brilhantes palavras, de sadia verdade, deveriam ser lidas e meditadas por certas mães que, cumulando os filhos de mimos demasiados, os tornam voluntariosos e mal criados e lhes preparam um caminho que no futuro se torna um verdadeiro calvário de amargura.

Fonte:  Livro Pe. José Neto  60 anos de Sacerdócio - Pags: 129,130

terça-feira, dezembro 10, 2013

PADRE MAXIMIANO

Padre Antônio Maximiano de Campos
1863 — 1902

Por volta de 1870, o Padre Antônio Maximiano de Campos comprou de Dona Custódia, proprietária da fazenda Berto, um terreno à margem do rio São João, abrangendo a várzea, onde há ainda hoje o pontilhão da estrada de ferro, e no sentido oeste, uma outra passagem de água, indo até às proximidades da cachoeira da usina que hoje tem o nome do Dr. Augusto Gonçalves, medindo 132 alqueires.

O padre era inclinado a lidar com criações e plantações. Naquele tempo, a Dona Custódia vinha assistir às missas, carregada numa liteira pelos escravos. Primeiramente, o Padre Antônio Maximiano fez uma pequena construção na parte alta de onde hoje se encontra o curral.

Só depois construiu a sede com 14 cômodos, com uma capela no seu interior, dedicada a Santo Antônio, e mudou-se para a fazenda, passando a dar assistência na Matriz somente aos domingos, indo a cavalo, hospedando-se na casa de Josias Gonçalves de Souza.

Moravam com o padre, que era também delegado de ensino, dois escravos, Manoel Carolina e Generosa.  Naquele tempo, a várzea era naquele trecho um alagado pantanoso que, no seu lento escorrimento, formava dois braços de rio, lugar infestado por pernilongos, e o Padre Antônio Maximiano usava uma canoa para fazer a travessia do rio.

Na sua fazenda, o Padre Antônio Maximiano cuidava de muitas variedades de frutas, principalmente uvas, e fabricava vinho, que era guardado no teto da casa onde ele subia usando uma escada móvel.  Certa vez, a escrava Generosa estava zangada com ele e tirou a escada do lugar, deixando-o de castigo por um bom tempo no teto da casa, o que custou à escrava uma boa refrega.

Só em 1875, na administração do Padre Antônio Maximiano de Campos, as obras de reforma foram terminadas, com a pintura interna feita pelo artista Pedro Campos de Sabará, auxiliado por Antônio dos Santos, conhecido por Tonho do Bá. Era uma pintura sem graça, que os reparos de 1916 e 1926 fariam desaparecer.

O Padre Antônio Maximiano de Campos foi durante todo o período de sua assistência em Santana, um bom amigo da paróquia. Era gorducho, bonachão, caridoso, displicente e apreciava bons pratos.  Soube reunir a seu redor muita simpatia e amizade. Morreu em 28 de fevereiro de 1902, vítima de uma dilatação do estômago, e durante seis meses, a paróquia esteve sem vigário.

Logo, Emídio Caetano Moreira foi a Bonfim e comprou a fazenda aos herdeiros do padre. Também em Santana, o padre tinha parentes, como o seu sobrinho Antônio Lopes Campos Sobrinho, o Tonico Lopes.

Emídio Caetano Moreira, o velho, era fazendeiro na época em que o Padre Antônio Maximiano chegou a Santana.

Olímpio Moreira, o Olimpinho, nasceu em 23 de novembro de 1906 e sempre morou onde morava o Padre. Agora mora atualmente o Sr. Romeu Moreira e a fazenda, que hoje se chama Boa Vista, é conservada zelosamente no mesmo estilo em que foi construída.

                            Padre Antônio Maximiano de Campos       



Foi proprietário da Fazenda Boa Vista;
Foi delegado de ensino;
Terminou as obras da ampliação da matriz de Sant’Ana em 1875;
Foi presidente do” Clube Literário e Progressista” de 1884/85;
Secretariou a assembleia de constituição da fábrica de Tecidos Santanense fundada em 1891;
Abençoou as instalações da Cia de Tecidos Santanense em sua inauguração em 7 de setembro de 1895;
Foi vereador da primeira Câmara de Itaúna e ocupou o cargo de vice-presidente da mesma;
Na câmara propôs a troca do nome da cidade(município recém-criado – 16/09/1901) para BURGANA (pequena cidade de Ana), não sendo aprovado;
Bom amigo da paróquia, caridoso e bonachão;
Soube reunir ao redor de sim simpatia e muita amizade;
Faleceu em 28/02/1902;
Após sua morte, a paróquia ficou seis meses sem vigário;
Foi enterrado dentro na antiga Matriz demolida em 1934.




Referências:
Resumo do Livro Pe. José Neto (Comemoração 60 anos de Sacerdócio) Ano 1997. págs :105,106,107108
Jornal O Paroquial, págs: 06 / 07, Abril 2001.
Arquivo Fotográfico: Esposa do Sr. Romeu (In Memoriam)
Fotografias: Charles Aquino
Organização e Pesquisa: Charles Aquino

quarta-feira, dezembro 04, 2013

PRAÇA DA MATRIZ

A MANIA DE MUDAR NOMES TRADICIONAIS DE LOGRADOUROS PÚBLICOS

A Praça da Matriz, localizada no coração de muitas cidades brasileiras, é um testemunho vivo da história e das mudanças políticas e culturais ao longo das décadas. A constante mudança de seu nome reflete não apenas os acontecimentos históricos, mas também as influências políticas e as homenagens prestadas a diversas figuras importantes do cenário nacional.

Originalmente conhecida como Largo da Matriz até o final da década de 1920, a praça era um ponto de encontro central para a comunidade, cercada pela Igreja Matriz de Santana. Este nome permaneceu até que, em 25 de outubro de 1930, uma portaria alterou oficialmente o nome para Praça João Pessoa. Essa mudança foi uma homenagem a João Pessoa, um líder paraibano e candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas, que foi tragicamente assassinado na capital de Pernambuco.

Na década de 1930, durante o mandato do Prefeito Artur Vilaça, a praça manteve seu nome até 1936, quando Vilaça foi exonerado e substituído pelo Dr. Lincoln Nogueira Machado, nomeado pelo então governador Benedito Valadares. Um dos primeiros atos do novo prefeito foi renomear a praça principal, retirando o nome de João Pessoa e denominando-a Praça Mário Matos. Essa decisão refletia as novas orientações políticas e as preferências do novo prefeito.

No entanto, as mudanças não pararam por aí. Durante o período ditatorial, houve uma lei que determinava que todos os municípios brasileiros deveriam nomear um de seus logradouros públicos em homenagem ao Presidente da República. Isso resultou na renomeação da tradicional Rua Direita para Avenida Getúlio Vargas e, pela terceira vez, a praça principal teve seu nome alterado, passando a ser conhecida como Praça Benedito Valadares, em homenagem ao governador que tinha grande influência política na época.

Com a queda de Getúlio Vargas e Benedito Valadares na década de 1940, o descontentamento popular se manifestou de forma significativa. A população, que não tinha uma boa relação com Benedito Valadares, arrancou a placa que levava seu nome. Em um ato de resgate histórico e valorização do fundador do município, a praça foi então renomeada para Praça Dr. Augusto Gonçalves, também conhecida popularmente como Praça da Matriz, devido à presença da Igreja Matriz de Santana.

Essa sequência de mudanças de nome da praça reflete uma "mania" de modificar os nomes tradicionais dos logradouros públicos, muitas vezes motivada por questões políticas e de poder. Cada renomeação traz consigo um pedaço da história local, mostrando como as influências externas e internas moldaram a identidade urbana e a memória coletiva da comunidade.

Assim, a Praça da Matriz, em suas diversas denominações ao longo dos anos, continua a ser um símbolo central da vida pública, um espaço que testemunha as transformações políticas, sociais e culturais, preservando em cada mudança um fragmento da rica história local.

PRAÇA DA MATRIZ E SEUS NOMES 

LARGO DA MATRIZ  - ATÉ FINAL DA DÉCADA 20 

PRAÇA JOÃO PESSOA  - DÉCADA 30

PRAÇA MÁRIO MATOS - DÉCADA 30

PRAÇA BENEDITO VALADARES - DÉCADA 40 

PRAÇA DR. AUGUSTO GONÇALVES - DÉCADA  50




Organização e pesquisa: Charles Aquino  

Fonte : NETO. Padre José. (Comemoração 60 anos de Sacerdócio) Ano 1997


segunda-feira, dezembro 02, 2013

COSME SILVA

COSME CAETANO DA SILVA
MEIO SÉCULO DE VERSATILIDADE NO RÁDIO

"Considerado um artista nato, com atuação em diversos segmentos da arte dedicou mais de 50 anos ao rádio"

Extremamente versátil, inteligente, criativo e com uma veia artística muito forte, o jornalista, advogado, radialista, dramaturgo instrumentalista e compositor. Cosme Caetano da Silva deixou um considerável legado, sobretudo no rádio, onde atuou mais de 50 anos. Ele iniciou sua carreira, neste veículo de comunicação, como músico da Rádio Clube de Itaúna tão logo foi inaugurada em 1950, passando em seguida por diversas funções na emissora e, nos últimos anos, apresentou o programa de variedades "Shôsme Silva Show" até a sua morte em 21 de agosto de 2003.

Cosme Silva nasceu em 24 de fevereiro de 1928 em São Gonçalo do Pará MG e aos 75 anos era um exemplo de entusiasmo e dedicação ao rádio. E tinha muita história para contar. Aliás, contar histórias era com ele mesmo, o que fazia com competência e propriedade ao escrever inúmeras peças teatrais, a exemplo de sua obra prima " E Ela não Voltou”, encenada pela primeira vez em Itaúna em 1964.

Essas habilidades de escritor também foram empregadas na criação de radionovelas, as quais, além de escrever, apresentava, narrando, interpretando e criando todos os sons necessários para compor a trama, a partir do seu aprendizado na Rádio Nacional do Rio, onde estagiou.

A Rádio Clube de Itaúna foi a primeira emissora do interior a produzir novelas radiofônicas em capítulos, fazendo grande sucesso em toda a região Centro Oeste de Minas.

Consta do anedotário do rádio que durante a transmissão - era tudo ao vivo _ de um capítulo de suas novelas, um dos personagens morreria vítima de um tiro, mas na hora prevista, a espoleta falou. O ator, contudo, não se atrapalhou e teve a iniciativa de começar a gritar: "Você não merece um tiro. Você vai morrer é na faca".

MÚSICA - Um instrumentista por excelência tocava piano, violão, cavaquinho, gaita, acordeom e escaleta, destacando-se, ainda, como compositor. Cosme Silva chegou a liderar dois conjuntos musicais: "Ases do Samba e "Garotas Tropicais" , mas abandonou sua atuação musical em decorrência das atividades que desempenhava no rádio, passando a acumular somente a função de promotor de shows, levando renomados artistas nacionais e internacionais à Itaúna, como : Nelson Gonçalves, Gauby Peixoto , Oscarito e Baden Powel .

 Ele também produziu inúmeros programas de auditório, revistas musicais, repostagens e transmissões de jornadas esportivas, sendo pioneiro nas transmissões do interior - a primeira foi ralizadade Uberaba pra Itaúna e foram gastas oito horas na construção da linha telefônica entre o estádio nacional e a central telefônica local.

Sem jamais abandonar a Rádio Clube de Itaúna, Cosme Silva participou da fundação da Rádio Santa Cruz de Pará de Minas - atualmente pertencente à Diocese de Divinópolis - e foi um dos sócio -fundadores da Rádio Tropical de Lagoa da Prata. Seu nome também está ligado à Associação Mineira de Rádio e Televisão — AMIRT, já que ele assinou a ata de criação da entidade, como representante da Rádio Clube de Itaúna.

 Suas múltiplas atividades não o impediram, contudo, de ter uma expressiva atuação social - isto muito antes do conceito de responsabilidade social e de voluntariado estar na moda.
Ele participou de conselhos consultivos, como membro atuante, de entidades diversas, desde hospitalares até clubes recreativos de operários, passando por unidades escolares, irmãos vicentinos e clubes de serviços como Rotary e Lions. Chegou a ser diretor do Orfanato de Itaúna e, ainda, arrumou um tempinho pra se enveredar pela política, sendo chefe de gabinete do prefeito Milton Penido e , posteriormente, vereador por dois mandatos  : 1970 a 1972 e de 1972 a 1976.

HOMENAGENS -  Pelos inúmeros projetos que desenvolveu, seja na área artística ou nos meios radiofônicos e empresariais, Cosme foi contemplado com medalhas, troféus e títulos. Dentre eles, o de Cidadão Honorário de Itaúna, em 1974; medalha de Ouro, concedida pela Associação dos Cronistas radiofônicos de Minas Gerais, em 1963; Troféu Força Nova, pelo jornal Diário de Minas, em 1969; Troféu Gutemberg, recebido em Araxá, em 1974; Operário Padrão de Itaúna, em 1978; e Troféu Bandeirantes, concedido pelo Programa Jota Silvestre, da Tv Bandeirantes de São Paulo, em 1983.

Também foi agraciado com diversos troféus de contos e poesias.  Sua produção deu se, na maioria das vezes, como autodidata, já que só aos 40 anos ele pôde concluir o Madureza Supletivo, atualmente -e em seguida passar no vestibular para o Curso de Direito da Universidade de Itaúna em nono lugar, data a sua inteligência acima da média.

Casado com Dª Noêmia Maria Caetano, com quem teve dois filhos: Giovanni Vinícius e Cristine Guadalupe, Cosme Silva foi e continua sendo um exemplo para todos aqueles que conviveram com ele, aqueles que puderam acompanhar a sua trajetória ou que possam vir a tomar conhecimento da sua história.



Referência:
Texto: Guaracy de Castro Nogueira
Apoio: Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira - ICMC
Organização e pesquisa: Charles Aquino
Acervo: Prof. Giovanni Vinícius