Nesta análise minuciosa, o historiador revela como libertos — muitos deles trazidos da África pelo tráfico escravista — participaram ativamente do mercado de crédito na vila de Pitangui.
O texto mostra que, mesmo após a experiência do cativeiro, essas pessoas exerceram papéis centrais como credores e devedores, demonstrando notável capacidade empreendedora ao oferecer empréstimos, comercializar produtos e construir reputações que garantiam acesso ao crédito.
Mais do que simples sobrevivência, a atuação desses agentes revela formas complexas de inserção social, poder e mobilidade, que incluíam inclusive a aquisição de cativos. Um retrato revelador da contribuição dos libertos para a sustentação das estruturas econômicas e sociais da sociedade colonial.
O artigo nos revela a participação de ex-escravos nas práticas
creditícias em Minas Gerais. Considerando que os personagens que aparecem como
credores e devedores nos processos de dívidas que o autor analisa eram pessoas
que viveram a escravidão, muitos chegados ao Brasil pela migração forçada do
tráfico, sua atuação no mercado de crédito demonstra uma incrível capacidade
empreendedora, tanto ao fornecer empréstimos ou produtos e serviços à crédito,
quanto ao construir reputação para tomar dinheiro emprestado.
Como corolário
dessa competência, o autor mostra que egressos do cativeiro frequentemente
adquiriram escravos e conclui que os libertos desempenharam um papel essencial
na sustentação das relações econômicas e sociais da vila mineira de Pitangui,
no século XVIII”.
Curiosidade histórica: O arraial de Santana do Rio São João Acima — atual município de Itaúna/MG — integrava, no século XVIII, a jurisdição da vila de Pitangui, estando sujeito às suas autoridades civis, eclesiásticas e judiciárias.
REVISTA GALO - ED.11/2025
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Dossiê: Formas de liberdades e vidas de libertos no escravismo atlântico
Ano 6, nº 11 –
jan./jun. de 2025 – doi: https://doi.org/10.53919/g11
Organização Dr.
Afonso de Alencastro Graça Filho; Me. Bruno Martins de Castro e Dr. Carlos de
Oliveira Malaquias
O sucesso da
historiografia sobre escravidão e liberdade tem demonstrado que as diversas
estratégias empreendidas por africanos e seus descendentes – como a alforria, a
fuga ou revolta, ou a demanda à justiça – correspondiam a variadas experiências
de autonomia, seja como produtor independente, trabalhador subordinado,
foragido ou diversas outras formas mais ou menos precárias de liberdade.
Partindo dessas e
de tantas outras questões que a temática proposta enseja, objetivamos congregar
aqui trabalhos de pesquisa que possam explorar a riqueza e a complexidade das
relações sociais, econômicas e políticas que pautaram e conformaram as diversas
experiências de escravidões e liberdades no escravismo atlântico, ao longo de
sua história. Fitar essa realidade, acima de tudo, permite-nos compreender e
problematizar muito daquilo que nos tornamos. Afinal, a intolerância, as
desigualdades e o racismo, marcas deletérias de nosso tempo, possuem raízes
históricas profundas e sua superação não se dará sem conhecermos os caminhos
trilhados até aqui.