sábado, abril 19, 2025

LIBERTOS EM PITANGUI XVIII

Descubra como ex-escravos moldaram a economia no coração de Minas Gerais colonial! Na edição nº 11 da Revista GALO (jan./jun. 2025), o historiador Charles Galvão de Aquino assina o artigo: “Práticas Creditícias: dinâmicas de poder entre libertos em Pitangui no século XVIII”.
Nesta análise minuciosa, o historiador revela como libertos — muitos deles trazidos da África pelo tráfico escravista — participaram ativamente do mercado de crédito na vila de Pitangui. 
O texto mostra que, mesmo após a experiência do cativeiro, essas pessoas exerceram papéis centrais como credores e devedores, demonstrando notável capacidade empreendedora ao oferecer empréstimos, comercializar produtos e construir reputações que garantiam acesso ao crédito.
Mais do que simples sobrevivência, a atuação desses agentes revela formas complexas de inserção social, poder e mobilidade, que incluíam inclusive a aquisição de cativos. Um retrato revelador da contribuição dos libertos para a sustentação das estruturas econômicas e sociais da sociedade colonial.

O artigo nos revela a participação de ex-escravos nas práticas creditícias em Minas Gerais. Considerando que os personagens que aparecem como credores e devedores nos processos de dívidas que o autor analisa eram pessoas que viveram a escravidão, muitos chegados ao Brasil pela migração forçada do tráfico, sua atuação no mercado de crédito demonstra uma incrível capacidade empreendedora, tanto ao fornecer empréstimos ou produtos e serviços à crédito, quanto ao construir reputação para tomar dinheiro emprestado.
Como corolário dessa competência, o autor mostra que egressos do cativeiro frequentemente adquiriram escravos e conclui que os libertos desempenharam um papel essencial na sustentação das relações econômicas e sociais da vila mineira de Pitangui, no século XVIII”.

Curiosidade histórica: O arraial de Santana do Rio São João Acima — atual município de Itaúna/MG — integrava, no século XVIII, a jurisdição da vila de Pitangui, estando sujeito às suas autoridades civis, eclesiásticas e judiciárias.

REVISTA GALO - ED.11/2025

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Dossiê: Formas de liberdades e vidas de libertos no escravismo atlântico

Ano 6, nº 11 – jan./jun. de 2025 – doi: https://doi.org/10.53919/g11

Organização Dr. Afonso de Alencastro Graça Filho; Me. Bruno Martins de Castro e Dr. Carlos de Oliveira Malaquias

O sucesso da historiografia sobre escravidão e liberdade tem demonstrado que as diversas estratégias empreendidas por africanos e seus descendentes – como a alforria, a fuga ou revolta, ou a demanda à justiça – correspondiam a variadas experiências de autonomia, seja como produtor independente, trabalhador subordinado, foragido ou diversas outras formas mais ou menos precárias de liberdade.

Partindo dessas e de tantas outras questões que a temática proposta enseja, objetivamos congregar aqui trabalhos de pesquisa que possam explorar a riqueza e a complexidade das relações sociais, econômicas e políticas que pautaram e conformaram as diversas experiências de escravidões e liberdades no escravismo atlântico, ao longo de sua história. Fitar essa realidade, acima de tudo, permite-nos compreender e problematizar muito daquilo que nos tornamos. Afinal, a intolerância, as desigualdades e o racismo, marcas deletérias de nosso tempo, possuem raízes históricas profundas e sua superação não se dará sem conhecermos os caminhos trilhados até aqui.

sábado, abril 05, 2025

CANSADA

Vivemos num tempo em que parecer forte é mais importante do que ser verdadeiro. Ser cansado virou fraqueza. Pedir ajuda virou drama. Mas e quando o silêncio grita por dentro?

Este poema é sobre isso: sobre o peso de ser forte o tempo todo. Sobre fingir que dá conta, enquanto desmorona por dentro.

Sobre uma sociedade que exige produtividade, mas nega cuidado, escuta e humanidade. 

"Cansada" é um poema que não pede licença. Ele chega como um grito abafado, uma lágrima escondida,

uma verdade que muita gente sente — mas não consegue dizer.

 Ler este poema é também fazer uma escolha: de não romantizar a resistência, e de lembrar que sentir também é uma forma de existir.

Charles Aquino


CANSADA

Cansada de ouvir discursos prontos,

E de responder com educação.

Cansada de calar diante da injustiça,

E de gritar no vazio da multidão.

 

Cansada de fingir que está tudo bem,

Enquanto o mundo pesa sobre os ombros.

Cansada de sorrir para agradar,

E de engolir a própria dor pra não incomodar.

 

Cansada de esperar que algo mude,

Enquanto tudo exige que eu mude primeiro.

Cansada de agir como se tivesse forças,

Quando já me roubaram até o suspiro.

 

Cansada da esperança que vendem,

Como se fosse moeda de troca.

Cansada do trabalho que me suga,

E do retorno que nunca vem.

 

Cansada de sonhar com justiça,

E acordar com a mesma miséria de sempre.

Cansada das promessas dos que mandam,

E da apatia dos que seguem.

 

Cansada de andar com passos firmes,

Só porque esperam firmeza de mim.

Cansada de seguir, sem saber pra onde,

Porque parar virou sinônimo de fraqueza.


Cansada da dor disfarçada em produtividade,

Do alívio vendido em gotas e frases feitas.

Cansada de continuar,

Porque desistir não é uma opção permitida.

 

Cansada de acreditar que mudar depende só de mim,

Quando tudo está armado contra quem nasce com menos.

Cansada da pobreza romantizada,

E da abundância que se gaba de ser meritocrática.

 

Cansada da guerra diária por dignidade,

E da paz que só chega nos discursos de campanha.

Cansada de ser forte todos os dias,

Quando o mundo nunca foi gentil com os fracos.

 

Cansada, sim.

Mas não vencida.

A verdade é:

ninguém deveria precisar ser tão forte assim.

E isso… isso não é só cansaço.

É denúncia.


 Lótus Negra

Escritoras Contemporâneas:

 Elaboração: Charles Aquino

Ilustração criada com IA, inspirada no conteúdo do texto.

 

sexta-feira, abril 04, 2025

ITAUNENSE MODERNISTA

Minas também foi moderna: a história esquecida do modernismo fora de São Paulo

Quando se fala em modernismo no Brasil, quase sempre o foco recai sobre a Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo. É como se tudo tivesse começado ali, com Mário de Andrade, Oswald e companhia. 

Mas será que é justo contar essa história como se outros estados fossem apenas plateia? Minas Gerais, com sua tradição literária riquíssima, também teve papel fundamental nesse movimento — e já passou da hora de darmos a devida atenção a isso.

Em seu artigo “O modernismo mineiro” de 1970 do “suplemento Literário” paulista, o crítico e Professor Fábio Lucas nos convida a olhar para o modernismo sob outro ângulo.

 Ele se apoia em estudos do sociólogo Fernando Correia Dias para mostrar que o modernismo mineiro não foi uma simples réplica do paulista. Pelo contrário: teve vida própria, personalidade forte e raízes bem fincadas no solo mineiro.

Antes mesmo de 1922, autores mineiros como João Alphonsus e Ronald de Carvalho já estavam experimentando formas novas de expressão literária. Em 1921, a obra Panóplia, de Carvalho, já trazia o frescor do novo em um momento em que o modernismo paulistano ainda se organizava. Ou seja, enquanto os refletores ainda nem tinham sido ligados em São Paulo, Minas já respirava modernidade.

Mas o que torna o modernismo mineiro tão especial não é apenas sua cronologia. É a forma como os escritores mineiros conseguiram integrar a tradição local à ousadia estética. Eles não queriam romper com tudo, mas sim reinterpretar — com espírito crítico e linguagem nova — aquilo que fazia parte da alma mineira. 

Um exemplo marcante é a revista Leite Crioulo, idealizada pelo itaunense João Dornas Filho com colaboração de jovens como José de Guimarães Alves. A publicação foi ousada, provocativa, e acabou sendo censurada em 1929 — sinal claro de que mexeu com estruturas conservadoras.

Ainda assim, por que essa história ficou esquecida? Talvez porque os mineiros não fizeram tanto barulho. O modernismo em Minas foi mais silencioso, mais profundo, menos performático — e talvez por isso tenha sido deixado de lado pelas narrativas mais convencionais. Fábio Lucas questiona justamente isso: por que insistimos em contar uma história do modernismo tão centrada em São Paulo, quando há tanta riqueza criativa em outras regiões?

Em suma, revisitar o modernismo mineiro é mais do que um exercício de memória — é um gesto de justiça literária. É reconhecer que a modernidade no Brasil sempre foi plural, diversa e profundamente enraizada nas realidades regionais. Autores como João Dornas Filho, Rosário Fusco, Aquiles Vivacqua, Guilhermino César e Francisco Inácio Peixoto merecem estar no mesmo panteão daqueles que transformaram a literatura brasileira. E mais: merecem ser lidos, discutidos e redescobertos — ao lado dos modernistas mineiros já consagrados como Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Pedro Nava, Cyro dos Anjos, Abgar Renault e outros (grifo meu).

No fim das contas, valorizar o modernismo mineiro é valorizar a diversidade cultural do Brasil. É perceber que nossa identidade literária não cabe em um só palco. Minas também foi moderna — e talvez tenha sido moderna à sua maneira, com silêncio, sutileza e força. E isso, convenhamos, é muito mais interessante do que uma história contada pela metade.


Quem é Fábio Lucas?

Fábio Lucas foi um renomado crítico literário, ensaísta e professor mineiro. Autor de dezenas de livros sobre literatura brasileira, especialmente sobre a literatura mineira, ele foi membro da Academia Mineira de Letras (Cadeira 22/1931) e teve atuação destacada na valorização de vozes regionais na crítica literária. Sua obra é marcada por uma visão crítica e plural da cultura nacional, sempre buscando destacar autores e movimentos esquecidos ou marginalizados pela historiografia tradicional.

 Saiba mais 


Referências:

Pesquisa e elaboração: Charles Aquino

Jornal Suplemento Literário, São Paulo, 30 de maio 1970, p.4, Ed.672.

Hemeroteca Digital Brasileira – Biblioteca Nacional 

terça-feira, abril 01, 2025

MANOELZINHO & COTINHA

Conheça o Legado que Transformou Itaúna!

Você já ouviu falar de Manoel Gonçalves de Souza Moreira e Dona Cota?
Eles não foram apenas nomes da história — foram símbolos de amor ao próximo, fé e generosidade que marcaram gerações em Itaúna.

Fundadores da Casa de Caridade Manoel Gonçalves e do Orfanato São Vicente de Paulo, seu legado vive até hoje, inspirando novas ações e tocando vidas.

Assista ao vídeo especial que preparamos e emocione-se com essa linda trajetória de solidariedade, coragem e visão!


Elaboração: Charles Aquino

Apoio: Guaracy de Castro Nogueira (In memoriam)