quinta-feira, novembro 28, 2013

CASA DE CARIDADE ITAUNA


Entre os itaunenses ilustres, um dos maiores foi, sem dúvida, Manoel Gonçalves de Sousa Moreira. Morreu no primeiro quartel, quando ainda havia muita insensibilidade diante do sofrimento. E ele pensou em todos  os necessitados. Dono de uma fortuna considerável, usou de seu patrimônio para construir a Santa Casa e deixar-lhe fartos meios de subsistência . Pediu em testamento , que com o excesso das rendas do hospital, fossem construídos dois colégios - um para moças e outro para moços. E temos a Escola Normal e o Colégio Santana , erguidos com o que sobrava à Santa Casa. Mais tarde, sua viúva, Maria Gonçalves de Souza Moreira, Dª Cota, como a chamávamos, fundou o Orfanato São Vicente, dotando-o também com valioso patrimônio.
Assim , o que temos de melhor, nas área da educação e da caridade - exceto a Universidade - devemos a Manuel Gonçalves de Souza Moreira . Não o conheci, lembra-me apenas o dia em que seu corpo chegou para um velório, numa das salas da Santa Casa, recém construída . Lá estive ainda criança, com minha mãe que lhe fora prestar sua última homenagem.
Um dos grandes valores doados à Santa Casa por Manoel Gonçalves de Sousa Moreira foi sua casa de residência , ampla e bonita , que eu conheci. Ocupava um lote enorme , na Rua Tupis, quase na esquina da Avenida Afonso Pena , onde hoje se erguem uma igreja e um colégio protestantes. O lote e o local eram de tal modo privilegiados que Ferreira Gonçalves, um grande amigo de Itaúna, na época de seu apogeu, fez uma oferta  extraordinária à Santa Casa. Construiria ali um belo prédio de 14 pavimentos .  A Santa  Casa exploraria as lojas, no térreo e ele, Ferreira Gonçalves , durante 10 anos  os 13 pavimentos superiores. 
Ao fim dos 10 anos a Santa Casa se tornaria proprietária de todo o prédio . Pude ver o projeto , pois Ferreira Gonçalves , ainda hoje é um bom amigo, apesar de agora nos encontrarmos  raramente e ele já estar vivendo os seus noventa e tantos anos.
 Itaúna é devedora a Manoel Gonçalves  de Sousa Moreira de uma justa homenagem . Faz pena ver o seu túmulo, ali na velha Santa Casa , tão esquecido e abandonado. Nada mais justo do que perpetuar-lhe a memória, com um bom monumento , numa das praças da cidade. Mais que ninguém ele o merece. A administração que o fizer terá honrado um dos maiores , se não o maior dos itaunenses .

Monsenhor Hilton Gonçalves de Sousa

Fonte : Jornal Brexó 1983


segunda-feira, novembro 25, 2013

MÁRIO MATOS

MÁRIO GONÇALVES DE MATOS

Nasceu em Santana do Rio São João Acima, atual Itaúna (MG), no dia 28 de setembro de 1891, filho de Antônio Pereira de Matos e de Maria Gonçalves de Sousa Matos. Fez o curso secundário no município mineiro de Dores do Indaiá e o preparatório nas cidades de Belo Horizonte e Juiz de Fora.

Transferindo-se para a então capital federal, matriculou-se na Faculdade Livre de Direito. Ainda nos tempos de estudante começou a atuar no campo do jornalismo e das artes. Em 1912 escreveu seu primeiro texto teatral, intitulado “A chegada do Presidente”. Dois anos depois terminou a peça Seu Anastácio chegou de viagem. Em 1915 começou a escrever para o jornal carioca Gazeta de Notícias e logo após para a Revista ABC, da qual se tornou redator-chefe. Em 1920, ano em que se formou, escreveu a peça Itaúna em fraldas de camisa. Escreveu a famosa peça teatral "As Cigarras do Sertão" em 1925.

Recém-formado, retornou a Itaúna, onde foi vereador e vice-presidente da Câmara Municipal. Eleito deputado estadual em 1923, exerceu o mandato na Assembleia Legislativa mineira até 1926, tendo sido vice-presidente da casa e membro da Comissão de Finanças. Em 1927 foi eleito deputado federal pelo Partido Republicano Mineiro e em maio tomou posse na Câmara dos Deputados, no Rio de Janeiro. Reeleito em março de 1930, teve o mandato interrompido em outubro seguinte em decorrência da vitória da revolução que levou Getúlio Vargas ao poder e extinguiu todos os órgãos legislativos do país. Voltou então para Itaúna e passou a advogar.

Em fins de 1933 foi nomeado diretor da Imprensa Oficial de Minas Gerais e, em 1935, ministro do Tribunal de Contas mineiro. Em julho de 1939 assumiu a Secretaria do Interior e de Justiça do estado e em julho de 1940 foi nomeado desembargador do Tribunal de Apelação, corte da qual posteriormente se tornaria vice-presidente. Foi ainda diretor da Escola Normal e do periódico Centro de Minas, em seu município de origem, e professor do Instituto de Educação, diretor do Diário de Minas e redator-chefe da Revista Alterosa, em Belo Horizonte.

No Rio de Janeiro trabalhou na Imprensa Nacional e foi docente no Instituto Lafayette. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, presidiu a Associação de Cultura Franco Brasileira e a Academia Mineira de Letras, e foi diretor da Associação Mineira de Imprensa. Faleceu em Belo Horizonte em 28 de dezembro de 1966.

Casou-se com Elisa de Moura Matos e, posteriormente, com Hermelinda de Almeida Matos. Seu genro Paulo Campos Guimarães foi deputado estadual em Minas Gerais. Em seu vasto número de publicações destacam-se Discursos (1927), Último Canto da Tarde, Machado de Assis: o homem e sua obra (1939) e O homem persegue o autor (1945).



REFERÊNCIAS:
TEXTO: Luciana Pinheiro
FONTE: CÂM. DEP. Deputados brasileiros (p. 191);
MONTEIRO, N. Dicionário (v. 1, 2, p. 305-306; 404-405); PREF. MUN. ITAÚNA.
ORGANIZAÇÃO: Charles Aquino 

sábado, novembro 23, 2013

ISMA PEREIRA FRADE

Conheça a história inspiradora de Isma Pereira Frade, ou simplesmente Dona Isma, uma mulher que dedicou sua vida ao serviço público e à comunidade de Itaúna, Minas Gerais.

Nascida em Salvador, Bahia, e órfã desde jovem, Dona Isma superou desafios e, em 1947, foi incumbida de abrir a primeira agência do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (IAPI) em Itaúna.

Sua jornada é marcada por dedicação, amizades e conquistas, tanto no trabalho quanto na vida pessoal. 

Ela foi reconhecida com o título de Cidadã Honorária de Itaúna, fundou o setor de assistência social de uma das maiores empresas da cidade e, mais tarde, foi eleita vereadora, sempre lutando pelos menos favorecidos.

Mesmo após sua aposentadoria, continuou contribuindo para a comunidade, até falecer em 2005, deixando um legado admirado por todos que a conheceram. Venha se inspirar com a história dessa grande mulher baiana/itaunense!

 

Uma baiana que amou Itaúna


ISMA PEREIRA FRADE ou simplesmente Dona Isma, nasceu em Salvador (BA) em 29 de dezembro de 1924. Ainda muito nova Dona ISMA perdeu seus pais, tendo sido criada uma tia-avó Amália do Sacramento Pereira e seu marido Octaviano Marques Pereira. Iniciou seus estudos no Instituto Normal da Bahia e, em 1941 formou-se Normalista (hoje professora primária). Ingressou no ex-IAPI (Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários) através de Concurso Público. Em 1947, no Rio de Janeiro, recebeu o seguinte desafio que ela mesma contava: "ir para uma cidadezinha do interior de Minas Gerais, chamada Itaúna e lá abrir um Posto do IAPI". 

Como boa baiana, aceitou e desafiou e dizia: "viajei de locomotiva a vapor (Maria Fumaça), do Rio de Janeiro para Belo Horizonte e de lá para Itaúna". Aqui chegou em 1947, sem conhecer nada nem ninguém da cidade. Havia, como há ainda hoje, uma pensão quase ao lado da Estação Ferroviária. Hospedou-se lá e, quem a conheceu sabe, tinha uma imensa facilidade de fazer amizades. E foi o que aconteceu. Em pouco tempo era conhecida por todos. A primeira pessoa a quem ela procurou foi Sr. Prefeito Municipal, à época Dr. Antônio Augusto de Lima Coutinho (DR. COUTINHO), expondo-lhe sua missão aqui em Itaúna. Dizia ela que recebeu total apoio e, em pouco tempo conseguiu abrir a Agência do IAPI, contando, também, com a colaboração da Cia. Industrial Itaunense e Cia. Tecidos Santanense, as duas maiores empresas da cidade. 

Em outubro de 1950, casou-se aqui em Itaúna com ERNESTO FRADE, bancário, natural de Formiga (MG), que veio transferido para o extinto Banco Comércio e Indústria, depois Banco Nacional. Desta união nasceu IONE COUTINHO, filha única do casal. Depois da Agência funcionar em diversos locais, durante o período revolucionário houve a fusão dos diversos Institutos, passando a ser o Instituto Nacional de Previdência Social e Dona ISMA continuou a ser a AGENTE (Chefe da Agência).

O Instituto então adquiriu um terreno à Rua Dr. José Gonçalves, onde construiu a Agência Local, tudo sob a supervisão de Dona ISMA e, conforme ela mesmo dizia, contou com a inestimável colaboração do Engº. SÉRGIO DE CASTRO, atual Secretário Municipal de Obras da Administração Municipal. Depois de 35 anos de profícuo e dedicado trabalho ao Instituto, decidiu aposentar-se, o que aconteceu em 1977. 

Em 1971, a Câmara Municipal de Itaúna concedeu-lhe, merecidamente o título de CIDADÃ HONORÁRIA DE ITAÚNA, título do qual ela muito se orgulhava, pois dizia "SOU ITAUNENSE DE CORAÇÃO". Coincidentemente, em 1978 a Cia. Industrial Itaunense ainda em boa situação, através de sua Diretoria, decidiu fazer uma reformulação completa, moderna e mais dinâmica em seu organograma, criando Departamentos, Divisões e Setores.

Em vista da experiência da Dona Isma na área social e da necessidade de uma empresa do porte da então Itaunense ter um setor especializado em assistência social, ela foi contratada, com o objetivo de implantar o Setor de Assistência Social, tendo sido nomeada Chefe do Setor. Eu, pessoalmente, acompanhei Dona ISMA em várias visitas que fez a diversas empresas que já tinham o referido setor já bem estruturado e, baseada nas diversas experiências que conheceu, estruturou o Setor na Itaunense. 

Para que funcionasse bem, a Diretoria destinou uma verba para que ela pudesse, entre outras coisas, atender aos funcionários de qualquer cargo ou nível, oferecendo pequenos adiamentos de salários, ajuda em caso de doença, etc. E o mais importante, com exceção da Diretoria, era a única pessoa que teve autorização para abrir uma conta bancária em nome da Cia. e assinar cheques. 

Em 1982, Dona ISMA resolveu ingressar na política, candidatando-se a vereadora. Foi eleita e cumpriu o mandato de 01-02-83 a 31-12-88. Foi considerada uma boa representante do povo, especialmente dos menos favorecidos, que ela conhecia bem devido anos de experiência vividos com AGENTE do INPS. Com a piora da situação da Itaunense ela decidiu parar de trabalhar definitivamente. 

Por problemas de saúde, mudou-se para BOCAIÚVA (MG), indo morar com sua filha IONE que para lá se mudara desde o casamento. Os problemas se agravaram e ela foi transferida para Montes Claros, onde acabou falecendo dia 14 de julho de 2005. Seu sepultamento foi aqui em ITAÚNA, terra que tanto amou e dedicou sua vida. Houve um sentimento generalizado de perda em toda a comunidade itaunense. Perdemos a "Dona Isma do INPS". Esta é resumidamente, a vida desta grande itaunense.

 

Texto: Juarez Nogueira Franco (In Memoriam)

Fonte: Ione Coutinho - (filha)

Organização: Charles Aquino


sexta-feira, novembro 15, 2013

JOVE SOARES

JOVE SOARES NOGUEIRA


Ombro alto, magro, 1,75 de altura, cenho carregado, cabelos ralos e grisalhos, barba e bigode feitos, lúcido e jovial, aos 85 anos de idade, andava o Cel. Jove Soares teso e desempenado como um moço.
Nascera aqui mesmo na fazenda das Três Barras, quando Santana do Rio São João Acima era distrito da cidade de Pitangui, em 8 de julho de 1868, na quadra mais tormentosa da guerra do Paraguai, entre as batalhas de Humaitá e Itororó. Era filho de Firmino Francisco Soares, de Onça de Pitangui, hoje Jaguaruna, e de Fabiana Nogueira Duarte, filha caçula do velho Manoel Ribeiro de Camargos, da fazenda da Vargem da olaria, um dos turunas da sua época, nos tempos de Santana.
Aos 26 anos de idade, isto é, em 25 de agosto de 1894, casara-se com sua prima Augusta Gonçalves Nogueira, uma garota de 16 anos , viva e bonita, inteligente e prendada, filha primogênita de Josias Nogueira Machado, que lhe enfeitiçou a vida e lhe infundiu animo e força de vontade para trabalhar como um gigante, criar uma família de onze filhos, dar a estes educação e estudo nos melhores colégios, deixando a todos, tranquilo e orgulhoso de sua obra, o amparo de uma dignificante educação moral e cívica, de uma boa cultura e de regular fortuna. No tempo de sua mocidade, fora sobretudo boiadeiro.
Não era do tipo desgracioso, desengonçado e torto da personagem de Euclides da Cunha, mas possuía em toda a sua plenitude a tenacidade, a bravura e a fortaleza do sertanejo.

Não possuía o hábito de se recostar, quando parado, ao primeiro umbral ou à parede que encontrasse; nem cair de cócoras sobre os calcanhares; nem o de descansar sobre   os estribos, quando sofreava o animal, pra trocar duas palavras com um conhecido. Era um sertanejo um tanto quanto civilizado, sem chapéu de abas largas, de vestimenta comum, com muita compostura nos gestos e nas palavras.
Impulsionado pela fibra inata, deste meninote se acostumou a varar os sertões. Acompanhado do crioulo Hortêncio, ou do preto Paulino, ou do seu primo Versol, ombro alto, relho de cabo de peroba à mão, tronco pendido para frente e oscilando à feição do trote de seus surrados cavalos, desferrados e tristonhos, rumava para Goiás, por trilhos, veredas e estradas quase intransitáveis, em busca de gado.
 Sem saber nadar, vadeava rios caudalosos agarrado à cauda de seu animal. Isto numa era em que não existia nem o avião, nem o automóvel e nem o rádio.
Levava três meses tangendo vagarosamente, daquelas brenhas longínquas para Santana, o gado bravio e chucro ali adquirido. Ora cantarolava em surdina atrás daquela mole ondulante toadas de senzala; ora afundava nas caatingas garranchentas colado a um garrote arribado e esquivo; ora lutava loucamente para conter o estouro da boiada.
Em casa, só ficava o tempo necessário à engorda do gado invernado nas suas fazendas da Bagagem, das Três Barras e do Pedro Gomes.
Se não lhe aparecesse comprado à porta, com a mesma fibra e tenacidade, punha o gado gordo em marcha e ia vende-lo à charqueada de Santa Cruz, ou abatê-lo em Niterói, no Estado do Rio, outra tirada de mais de seiscentos quilômetros no lombo de seus célebres cavalos.

Tinha apenas o conhecimento das primeiras letras; mas, inteligente e cônscio disso, sabia porta-se com compostura, nas reuniões mais seletas. Trazia sempre pronta uma verve de ironia para os pomadistas, para os pelintras e para os metidos a sabichões. Bom palrador, deliciava-se com uma boa prosa, simples ou picante. 
Pouco crédulo, desconfiado e sem respeito humano, nunca se deixou apanhar por espertalhões. Estava sempre a par do que ia pelo mundo, através da leitura dos jornais, no que era um viciado. Não fumava, não bebia e não jogava, mas em compensação fora um emérito galanteador, fino e respeitoso.
Na luta pelo direito, era um obstinado; demandista, ferrenho, porém leal. Chegara até a demandar, em pleitos memoráveis, na repulsa daquilo que julgava intolerável injustiça, com um irmão amado e com o vigário João Ferreira Álvares da Silva. Era visceralmente econômico. Dava ao dinheiro extraordinário valor, talvez pelas canseiras do trabalho honrado e duro em adquiri-lo e por possuir no mais alto grau o senso da previdência.
Depois dos quarenta e dois anos, convidado respectivamente pelos amigos Dr. Augusto Gonçalves de Souza, Cel. João de Cerqueira Lima, Dr. Cristiano França Teixeira Guimarães, e Dr. Thomas de Andrade, fundara com os mesmo, em maio de 1911, a Companhia Industrial Itaunense, e em janeiro de 1923 o Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais, S.A. , de que fora grande entusiasta e onde invertia invariavelmente as suas economias na compra de suas ações.
Com o falecimento do Cel. Antônio Pereira de Matos, ocorrido em 27 de fevereiro de 1926, fora eleito diretor secretário da Itaunense, posto em que se manteve pela consideração de seus amigos até o fim de sua vida.

Nunca fora forte em política.  Mas vangloriava-se em tom de caçoada, em poder contar, em qualquer emergência, com dois votos seguros: o da Galinha Gorda, seu rendeiro da fazenda da Bagagem, e o do Antônio Luiz, seu sobrinho por afinidade, mas, mesmo assim, foi vereador à primeira Câmara Municipal de Itaúna, em 1902, mandato que lhe foi renovado até 1916; e foi Conselheiro Municipal em 1932 e 1936.
Enviuvou-se em 14 de maio de 1935. E venerou a memória de sua esposa querida até o último alento. Todas tardes, ao pôr do sol , em casa ou em qualquer lugar em que estivesse, voltava-se em espírito e coração pra o local onde jazia a amada,  guardando uns minutos de silêncio, rezando baixinho, ou balbuciando coisas ininteligíveis, como a confidenciar  com alguém de muita estima  e respeito.

Falecera em 17 de novembro de 1953. Fora um bravo até para morrer. Se lhe fosse possível vencer a morte, ele a venceria, porque com ela disputava palmo a palmo, conscientemente, bravamente, o direito de viver um pouco mais, contendo, inúmeras de suas tremendas investidas, contrariando todos os prognósticos dos médicos assistentes, até tombar inconsciente, debaixo de seus inexoráveis tentáculos.




REFERÊNCIAS:
Pesquisa e Organização: Charles Aquino.
Texto biográfico: Mário Soares
Fonte: Revista Acaiaca nº 56, org. Celso Brant,1952, p.28,29,30,31.

quarta-feira, novembro 13, 2013

MANOELZINHO E DONA COTA

    Manoel Gonçalves de Souza Moreira, o "Manoelzinho do Hospital", nasceu em Santana do São João Acima, aos 19 de dezembro de 1851, filho de Manoel José de Souza Moreira e de Dª Ana Joaquina de Jesus. Seu pai, Manoel José de Souza Moreira, nascido em Bonfim, em 5 de fevereiro de 1829 e falecido em Santana do são João Acima , aos 22 de dezembro de 1898, foi o pioneiro da industrialização local e a mais importante  expressão da família Souza Moreira de Bonfim. Fundou a Casa Comercial "Moreira & Filhos", de grande importância para a formação econômica e histórica de Itaúna. Contribuiu pra transformar o arraial de Santana no principal empório comercial da região Centro Oeste de Minas.
    Foi na firma "Moreira & Filhos" que Manoel Gonçalves de Souza Moreira, João de Cerqueira Lima e Josias Nogueira Machado, respectivamente filho e genros do seu patrão, aprenderam e se tornaram hábeis comerciantes. Manoel Gonçalves de Souza Moreira foi um legítimo herdeiro das qualidades e virtudes de seu notável pai, Ainda muito jovem se tornou sócio da firma "Moreira & Filhos". Nela trabalhando arduamente fez carreira de balconista a gerente. Acumulou desde cedo bom patrimônio, vivendo exclusivamente para o trabalho. Participou ativamente na estruturação da Companhia de Tecidos Santanense, de que foi fundador com seu pai Manoel de Souza Moreira. 
    Quando da Assembleia Geral da fundação realizada em 23 de outubro de 1891, com apenas 29 anos de Idade, subscreveu 400 ações, no valor de 80 contos, importância altamente expressiva para época, somente precedido por seu pai, Manoel José de Souza Moreira, que subscreveu 600, no valor de 120 contos de réis. Ele e seu pai eram realmente os únicos ricos da família. Depositaram no Banco do Império do Brasil os 60 contos necessários, 30 de cada um deles, como caução, para lançaras ações da primeira sociedade anônima de Itaúna. Foi a pedra fundamental da mentalidade capitalista de Itaúna.
     Capitalismo caboclo, familiar e paternalista. Foi diretor tesoureiro da empresa, desde sua fundação até o ano de 1904, quando, atraído pelo rápido progresso na nova capital mineira, inaugurada em 12 de dezembro de 1897, se transferiu pra Belo Horizonte. Lá com sua mentalidade de empresário bem sucedido, foi um dos fundadores da Companhia Industrial Belo Horizonte, com capital de 600 contos de réis, sendo eleito na Assembleia de Constituição, realizada aos 28 dias de agosto de 1906, membro da primeira diretoria, para o mandando de 1906 a 1911, composta pelos fundadores da sociedade, a saber: Cel. Inácio Magalhães; Cel. Manoel Gonçalves de Souza Moreira e Cel. Américo Teixeira Guimarães.
    Antemonarquista histórico foi o principal fundador , em 21 de abril de 1889, do Clube republicano "21de Abril", de Santana do São João Acima, sendo eleito pelos noventa membros que o acompanharam na fundação, e também pelas principais lideranças santanenses, presidente do clube e que se filiou ao Centro Republicano, de igual nome, em Ouro Preto. Foi também o criador, em 13 de abril de 1890, do semanário o "Centro de Minas", o primeiro jornal a circular em Santana do São João Acima. Ao regressar de sua viagem à Europa, em Paris, na Cidade Luz, já idoso, passou a meditar em profundidade sobre o destino a ser dado ao expressivo patrimônio por ele acumulado. Não possuía filhos e amava Itaúna , a terra de seu nascimento. 
    Espírito cristão e fraterno tomou a mais importante decisão de sua vida modelar: fundar, em sua terra natal, uma "Casa de Caridade", e doar parcela substancial de seu grande patrimônio a uma instituição que viesse a ser construída com o objetivo de instalar e manter o hospital, um asilo de velho, um pavilhão pra tuberculosos; bem como investir, conforme recomendado em seu testamento, na educação dos jovens itaunenses. Casou-se com a sua prima Maria Gonçalves de Souza Moreira, conhecida por Dª Cota. 
    Foi uma das mais extraordinárias personalidades de Itaúna, sem dúvida o maior filantropo do século XX em nossa cidade, pelo seu alto espírito humanitário. Este ato o credenciou ao respeito, ao apreço e à eterna gratidão de todos itaunenses, pois se transformou em nosso maior benfeitor. Faleceu em Belo Horizonte, aos 20 dias de junho de 1920, aos 68 anos de idade, sendo sepultado, como do seu desejo, em Itaúna, junto à  "Casa de Caridade" que ostenta o seu benemérito nome. 
    Sua Viúva, Dª Maria Gonçalves de Souza Moreira, a caridosa Dª Cota, alguns anos após, impulsionada por seus sentimentos cristãos e inspirada no belo ensinamento de seu esposo, fundou o "Orfanato São Vicente de Paula". Ela faleceu em 26 de novembro de 1954, aos 79 anos de idade, sendo sepultada, em Itaúna, como de sua vontade, sendo verdadeiro que ela se tornou benfeitora e benemérita. Esta é a origem da "Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira", da Escola Normal e do Colégio Santana.

Guaracy de Castro Nogueira