Anno 1913
MINAS
GERAES–ESTADOS UNIDOS DO BRASIL
A TERRA DA
LIBERDADE
(LINDOLPHO
XAVIER)
Eis nesta
curva ideal que aos desertos se extende
As
tranquillas regiões dos planatos centraes,
Na larga
linha azul que os infinitos fende,
Goyaz, Bahia
abraça e Matto Grosso prende,
Vindo
fechar-se emfim nestas Minas Geraes.
Cá, o
Itacolomy, como impávida tórre,
Ergue a
fronte de ferro em eterna atalaya;
Alli, o São
Francisco, o Paraopeba corre;
Além, da
Mantiqueira o dorso azul percorre,
E fura os
céos o pico azul do Itaiaya.
Além, na
leda encosta , a dominar o cerro,
Surge altiva
e ridente a nova Capital.
E perto,
como um vasto elephante de ferro,
A ouvir do
trem que passa o estrepitante berro,
Immensa se
espreguiça a Serra do Curral.
Eis Morro
Velho, alli, Kimberley rica e bella,
O ouro a
tirar do ventre em grandes borbotões;
Eis Honório
Bicalho, a escancarar a guella,
Gongo-Socco,
Tripuhy,Passagem,Gandarella,
Golcondas a
esconder nos fundos corcovões.
Eis o
Burnier, a mostrar o esburacado flanco,
O ouro negro
a jorrar das cavernas sem fim;
Eis adeante,
a empinar-se, a Serra do Ouro Branco,
Por onde o
trem de ferro, em truculento arranco,
Corta em
duro rugido as furnas de Alladin.
Além entre
os coxins das verdejantes fraldas,
De Tombos,
Manhuassú, Viçosa e Muriahé,
D’alta
vegetação nas crúas esmeraldas,
Com as
flores a brotar nas túmidas grinaldas,
Eis as ricas
regiões das terras de café.
Alli, da
verde baga entre os quentes odores,
Com a
machina a bufar, arrastando os vagões,
Ao ruido do
progresso e ao fumo dos vapores,
Vae A
Fortuna a inchar,
com seos mil esplendores,
Nova
Colchida a erguer nessas duras regiões.
Nas bordas a
sorrir do umbroso Parahybuna,
Juíz de
Fóra, a princeza, ergue a fronte real.
Pisa São
João D’El-Rey os antros da Fortuna,
Céres hymnos
entôa em Pará e Itaúna,
E ao Sul
jorram saúde as fontes de Crystal.
De Sabará e
Caeté eis as serras distantes,
As cinsas a
guardar do estadista de escól.
De
Diamantina, além, eis os céos de diamantes,
E Ouro
Preto, a acenar aos seos mil visitantes,
Com a sua
fronte aureolada e inundada de sol.
Curvello e Pitanguy , Patos e Indayá se inclinam
Entre os
renques viris dos mil buritysaes;
Uberaba e
Araxá sobre os campos reclinam,
E além ,
Paracatú e Carmo já se empinam
Sobre o
Sahara de anil, entre os Campos Geraes.
De
Tiradentes surge o épico fantasma,
- Liberdade!
– a rugir com a portentosa voz;
De ottoni o
inclyto vulto o estro nos enthusiasma,
E de Santos
Dumont o berço além se plasma,
Erguendo um
hymno eterno ao ousado albatroz.
De Claudio e
Guimarães a lyra inda alli geme;
Eis de
Albuquerque o vulto, e Ouro Preto, e Durão;
Eis Baptista
Caetano, eis Gonsaga e Paes Leme,
E Capanema a
guiar do telegrapho e leme,
E Carneiro,
o alto heróe, a morrer como um leão.
E do
Triangulo ao Parahyba, e ao Rio Doce distante,
Desde os
camnpos do Norte aos pinheiraes do Sul,
Minas vive a
sorrir, com o peito de gigante.
Cravejada de
ferro, e de ouro, e de brilhante,
Qual
princeza encantada, orgulhosa e taful !
Fonte :
Hemeroteca Digital Brasileira (http://hemerotecadigital.bn.br/)
Pesquisa:
Charles Aquino