quarta-feira, fevereiro 06, 2013

A Terra Da Liberdade



Anno 1913

 MINAS GERAES–ESTADOS UNIDOS DO BRASIL 

A TERRA DA LIBERDADE

(LINDOLPHO XAVIER)

Eis nesta curva ideal que aos desertos se extende
As tranquillas regiões dos planatos centraes,
Na larga linha azul que os infinitos fende,
Goyaz, Bahia abraça e Matto Grosso prende,
Vindo fechar-se emfim nestas Minas Geraes.

Cá, o Itacolomy, como impávida tórre,
Ergue a fronte de ferro em eterna atalaya;
Alli, o São Francisco, o Paraopeba corre;
Além, da Mantiqueira o dorso azul percorre,
E fura os céos o pico azul do Itaiaya.

Além, na leda encosta , a dominar o cerro,
Surge altiva e ridente a nova Capital.
E perto, como um vasto elephante de ferro,
A ouvir do trem que passa o estrepitante berro,
Immensa se espreguiça a Serra do Curral.

Eis Morro Velho, alli, Kimberley rica e bella,
O ouro a tirar do ventre em grandes borbotões;
Eis Honório Bicalho, a escancarar a guella,
Gongo-Socco, Tripuhy,Passagem,Gandarella,
Golcondas a esconder nos fundos corcovões.

Eis o Burnier, a mostrar o esburacado flanco,
O ouro negro a jorrar das cavernas sem fim;
Eis adeante, a empinar-se, a Serra do Ouro Branco,
Por onde o trem de ferro, em truculento arranco,
Corta em duro rugido as furnas de Alladin.

Além entre os coxins das verdejantes fraldas,
De Tombos, Manhuassú, Viçosa e Muriahé,
D’alta vegetação nas crúas esmeraldas,
Com as flores a brotar nas túmidas grinaldas,
Eis as ricas regiões das terras de café.

Alli, da verde baga entre os quentes odores,
Com a machina a bufar, arrastando os vagões,
Ao ruido do progresso e ao fumo dos vapores,
Vae A Fortuna a inchar,
com seos mil esplendores,
Nova Colchida a erguer nessas duras regiões.

Nas bordas a sorrir do umbroso Parahybuna,
Juíz de Fóra, a princeza, ergue a fronte real.
Pisa São João D’El-Rey os antros da Fortuna,
Céres hymnos entôa em Pará e Itaúna,
E ao Sul jorram saúde as fontes de Crystal.

De Sabará e Caeté eis as serras distantes,
As cinsas a guardar do estadista de escól.
De Diamantina, além, eis os céos de diamantes,
E Ouro Preto, a acenar aos seos mil visitantes,
Com a sua fronte aureolada e inundada de sol.

Curvello e Pitanguy , Patos e Indayá se inclinam
Entre os renques viris dos mil buritysaes;
Uberaba e Araxá sobre os campos reclinam,
E além , Paracatú e Carmo já se empinam
Sobre o Sahara de anil, entre os Campos Geraes.

De Tiradentes surge o épico fantasma,
- Liberdade! – a rugir com a portentosa voz;
De ottoni o inclyto vulto o estro nos enthusiasma,
E de Santos Dumont o berço além se plasma,
Erguendo um hymno eterno ao ousado albatroz.

De Claudio e Guimarães a lyra inda alli geme;
Eis de Albuquerque o vulto, e Ouro Preto, e Durão;
Eis Baptista Caetano, eis Gonsaga e Paes Leme,
E Capanema a guiar do telegrapho e leme,
E Carneiro, o alto heróe, a morrer como um leão.

E do Triangulo ao Parahyba, e ao Rio Doce distante,
Desde os camnpos do Norte aos pinheiraes do Sul,
Minas vive a sorrir, com o peito de gigante.
Cravejada de ferro, e de ouro, e de brilhante,
Qual princeza encantada, orgulhosa e taful !



Fonte : Hemeroteca Digital Brasileira (http://hemerotecadigital.bn.br/)
Pesquisa: Charles Aquino


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