terça-feira, setembro 19, 2017

PROCLAMAÇÃO NASCE DOENTE


Na história do Brasil que me ensinaram, nunca foi mencionada a dor de barriga do Imperador Pedro I e seu descarrego nas margens do riacho Ypiranga. Nos dias de hoje, não temos mais segredos. Até em novela fez menção ao desarranjo intestinal do filho de D. João VI. Tal fato não desmerece o jovem Imperador. Era impulsivo, amante como poucos e excelente músico. Fez o Brasil independente. Teve uma multidão de filhos e ainda teve tempo de ser o rei Pedro IV de Portugal. Morreu com trinta e seis anos.
A Independência se deu em Sete de Setembro de 1822. Em 15 de novembro de 1889, o marechal Floriano Peixoto, monarquista e opositor dos republicanos, foi tirado da cama pelo Tente. Coronel Benjamim Constant, este sim, republicano. O marechal estava acamado e era amigo do velho Pedro II. Convencido pelos subordinados que armaram uma "fofoca" a respeito de uma mulher e um desafeto, o veterano da Guerra do Paraguai proclamou a República. Feito isso voltou para cama.
Dá para notar que o Brasil já nasce doente. Na Independência e na República. Ser republicano não é nenhum mal e tampouco ser monarquista é pecado. Aliás, uma das palavras mais usadas e mal utilizadas no Brasil de hoje e republicano. Os políticos a usam a torto e a direito, por qualquer motivo.
Entretanto, ser republicano ao ponto de trocar a data da Independência pela a data da Proclamação da República é demais!!!
“Um prefeito municipal da cidade de Itaúna cometeu esta gafe”. Não se sabe se foi de propósito, por não gostar da monarquia ou se foi um engano. No meu sentir, foi por picuinha com D. Pedro. Afinal, no decreto municipal que foi publicado, nota-se a palavra “RECAIRÁ” em alusão ao Sete de Setembro. Depreende-se que em anos anteriores a inversão já existia. Simples assim.
Trocar o jovem e impetuoso Imperador pelo velho marechal, somente em Sant'Ana do São João Acima. Por precaução, aqui vai um aviso ao jovem intendente da urbe. D. Pedro II, apesar da barba branca e a aparência de velho, é filho de D. Pedro I, não o contrário como muitos pensam!!!!

Notas:
O jornalista baiano, ex- político Sebastião Nery em sua vasta obra, escreveu um livro que fez um enorme sucesso. Se não me trai a memória, tem o título de Histórias do Folclore Político Brasileiro, volumes I e II. Na publicação ele enumera inúmeras gafes de alcaides do interior e de capitais. Prefeitos dispostos a revogar a Lei de Gravidade de Isaac Newton e a Lei da oferta e Procura. Só não conseguiram levar a cabo a tarefa, ao serem advertidos pela oposição. Disseram aos prefeitos que as ditas leis eram federais e se sobrepunham ao poder municipal.


*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 10/09/2017.

Obs..: O episódio de se fazer a "proclamação do 7 de setembro" foi no ano de 2017.


ITAUNENSE "QUEBRA COCO"

Evandro Coutinho, filho do dr. Lima Coutinho tinha apelido de "Pança”. Aliás na casa, praticamente todos tinham apelido e todos eram bons de bola. Exceto as moças. Creio que eram duas.

Dos dois mais velhos, pouco me lembro. Um deles era médico, casado com uma americana do Norte. Consequência da especialização feita na terra de Tio Sam. O outro era advogado. Foi secretário de Estado de Segurança Pública. Chamava-se Rômulo. 

Depois vinha o Marco Elísio. Trabalhava na Prefeitura. Bom de bola, tinha o apelido de Ming. Logo em seguida, o Juarez, bancário e goleiro conceituado. Apelido: Xeca. Abaixo do Juarez era o Jairo. Bom de bola. Atacante perigoso. Não tinha apelido. O caçula era o Elder. Mais ou menos de minha idade. Sofrível no futebol. Apelido: Tibinha.

Evandro foi estudar Agronomia em Viçosa. Foi lá que " engenhou" a sua invenção. Uma máquina de quebrar coco babaçu, movida a tração animal. Cheguei a ver um protótipo, fundido em ferro gusa. Funcionava, mas não logrou êxito comercial. Afinal, babaçu só no Nordeste de Brasil. Era mais barato pagar as mulheres quebradeiras de coco do que comprar a máquina do Pança. Restou-lhe o apelido que ganhou na Escola de Viçosa: "Quebra Coco".

Quanto ao futebol, os Coutinho tinham um campinho na enorme casa da rua Arthur Bernardes. Estive lá muitas vezes.



*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 07/09/2017.

Acervo: Shorpy

Organização: Charles Aquino


segunda-feira, setembro 04, 2017

GUARACY E O SETE SETEMBRO


Entrei no curso ginasial em 1955, na Escola Normal Oficial de Itaúna. A diretoria do tradicional educandário já estava nas mãos do dr. Guaracy de Castro Nogueira, sucedendo a Dª Nair Coutinho. Sem desdouro para a sucedida, o dr. Guaracy imprimiu ritmos novos à escola. Era um desbravador, apaixonado pelo trabalho e por Itaúna.

Construiu uma quadra polivalente para prática do basquete, vôlei e futebol de salão. Num dos lados, uma prosaica arquibancada de cimento. Deu nova vida a escola, a pratica de novos esportes e as aulas de educação física. Construiu cantina, entregue ao porteiro "Tonico" que morava com uma família num barraco no terreno do prédio.

Construiu até mictório, cuja história já contamos neste espaço. No porão do edifício, construiu um vestiário e posteriormente, uma oficina bem montada para a prática de trabalhos manuais. O homem era desabusado e gostava de progresso.

Patriota como poucos, era entusiasmado pelo Sete de Setembro. Sob o comando do Tenente Maimone, na época, professor de Educação Física, aprendíamos a marchar em passo certo. Jovens adolescentes, moças e rapazes debaixo das ordens do militar durão.

Treinávamos com os portões e no Dia da Independência aparecíamos para o público reunido na praça.

Para o gosto do diligente diretor ainda faltava algo: a fanfarra. Ainda no meu tempo de ginásio ele conseguiu concretizar o sonho. Um aluno vindo de fora, de nome Atilio D'Aurio, se não me falha a memória, sabia tocar o tarol. Em pouco tempo, outros com aptidão para os tambores foram aparecendo.

O Rubens Machado (que Deus o tenha) filho do Major Rui, Roberto Moravia, Roberto "Abana Fogo", Zé Dias e outros mais, foram se incorporando. Providenciadas as caixas "claras", surdos e outros componentes da percussão eis que surge uma bela fanfarra.

Toca a ensaiar para o grande dia. Para as moças, as quais não era permitido tocar na banda, treinar exercícios de ginástica rítmica e manuseio de bastões. Daí saíram as futuras balizas.

Foi um acontecimento na cidade o Sete de Setembro daquele ano. Todos os alunos, moças e rapazes, impecavelmente uniformizados. Sapatos pretos engraxados, meias branca e uniforme engomado, a marchar em passo correto na praça principal.

Juntamente com o Tiro de Guerra 80, o Ginásio Sant'Ana, a Escola de Contabilidade do "Seu Carmelo ". Dava gosto ver o orgulho dos estudantes e das famílias a "lamber as crias".

Das balizas, lembro-me da Marise, filha da d. Artumira, da Cleusinha (irmã do Tarefa), da Maria José Bustamante, da Zuzinha. As outras que me perdoem a falha.
Itaúna inteira na praça da matriz. William Leão de farda de tenente da reserva, José Diniz, idem. 

No alto falante da igreja de Sant'Ana, o padre Manoel Cauper narrava o desfile. Ainda ecoam nos meus ouvidos as suas palavras: " rufam os tambores, abrem-se as fanfarras para passagem dos galhardetes da pátria........."

Éramos felizes e não sabíamos.



*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 01/09/2017.