segunda-feira, agosto 28, 2017

BAR DO ZÉ DO PINTO


O bar do Zé Pinto ficava na rua da Ponte. Aliás, nunca soube o nome da rua da Ponte e tampouco lembro-me de nenhuma ponte no lugar. Parte da cidade a ser visitada com cuidado. Naqueles tempos de " turmas" de rua, era preciso ter cuidado por lá. Tinha a turma do Mário "Coqueiro", esperto e bom de briga, temor de toda a molecada de meu tempo.
Rua sem calçamento, característica da maioria das vias, vielas e becos daquele tempo. Calçamento só nas partes nobres de Itaúna, feito com paralelepidos ou " pé de moleque". Não importava. A cidade tinha poucos carros e no tempo de chuva não chegava a ter muita lama. Na seca, pouca poeira. Falta de carros e caminhões.
Creio que o bar do Zé Pinto era o único da região. Razoavelmente bem montado, com cerveja, cachaça e refrigerantes servidos no balcão. Nada de mesas para conforto da freguesia. Sem lugar de assentar, a demora por lá era pouca. Giro mais rápido da mercadoria.
Para nós, ainda adolescentes, o bar era uma beleza. Tinha uma bela mesa de sinuca, de marca Brunswick, bem forrada de pano verde e tacos sem "empeno". Um espetáculo.
Não nos era permitido jogar nos bares do centro da cidade. Proibido pelo Juiz de Menores e fiscalizado pelos poucos policiais do destacamento. Sinuca naqueles tempos, só de mesa grande. No Bar Santana, que ficava na praça Augusto Gonçalves, na Petisqueira na rua Silva Jardim e no Bar Rodoviário, debaixo do sobrado do Sebastião Lara, na praça, esquina da rua Cel. Francisco Manoel Franco.
Os donos não nos permitiam jogar. Zé Pinto era camarada. Jogávamos sem restrições, desde que não houvesse apostas e algazarras.
Por lá, nos aprimoramos nas bolas de efeito, contra ou a favor. Nas " puxadas" e nas " seguidas" e nos segredos das tabelas. Mesa de boa qualidade, de tampo de ardósia, bem nivelada e sem descaídas. Bolas de marfim, para sinuca e para o jogo de " duzentos".
Diversão sadia, livre dos perigos do Juizado e do delegado " Tião Secreta". Acobertados pelo Zé Pinto e sem correr risco de sermos corridos de lá pelo Mário Coqueiro e seus companheiros. Bons tempos no final dos anos cinquenta. Que Deus tenha o Zé Pinto em bom lugar. Ele merece.


*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 28/08/2017.
Acervo: Shorpy


Um comentário:

  1. Rua Santana. A ponte era no seu final, sobre o rio São João, saída para BH.

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