quarta-feira, novembro 28, 2012

CATÁSTROFE NA PEDREIRA DE ITAÚNA



Terça-feira do ano de 1933 do dia 7 de fevereiro, o velho relógio da Matriz realejava  2 horas da tarde. Ao sopé da colina do rosário, alguns trabalhadores suavam e tressuavam sob a soalheira do estival , na extração de pedras para a nova Matriz, quando lhes interrompeu a labuta súbita uma explosão.
A notícia alarmou logo a cidade. Fomos entrevistar na Santa Casa uns dos feridos. Na portaria, recebeu-nos amavelmente o dr. José  Drumond, que nos conduziu até a enfermaria dos homens, onde, entre outros leitos ocupados por enfermos, nos mostrou um , cheio de ataduras. É este, disse-nos o dr. Drumond. E fiquem à vontade.
Antônio Martins, o nosso entrevistado, assim nos narrou a catástrofe:
- O sr. sabe, diz ele. Quem é pobre e tem família que criar, filhinhos ainda pequenos, há de sujeitar a serviços perigosos, como trabalhar em pedreiras. Faltava material para os alicerces da nova Matriz. Depois de bloquear a rocha, eu e mais dois companheiros – Zeno Pereira e Alfredo Morais – preparávamos a dinamite para ser colocada na mina. De repente, não sei por efeito do calor , a bomba explodiu em minas mãos.  Não sei como, dei um salto enorme. Caí a alguma distância, sentindo-me gravemente ferido e banhado em sangue.  Zeno e Alfredo desapareceram para mim. Os outros companheiros, após um momento de hesitação, acudiram nos gritando socorro. Fui levado à Farmácia Brasil, onde o dr. Hely Nogueira me medicamentou ligeiramente.
Às 3 horas da tarde , eu entrava carregado na Santa Casa. Aqui estou até hoje, sentindo-me bem melhor, graças a Deus.
- E os seus dois companheiros. É grave o estado deles?
-Não senhor. Estiveram aqui. Zeno Pereira sofreu ligeiro ferimento. O outro Alfredo, dizem que não ficou ferido.
Antonio Martins , o nosso entrevistado ficou com ambas as mãos feridas. Delas , a esquerda muito estragada, da qual três dedos foram amputados. A explosão alcançou-lhe também o ventre.
Antonio , como os seus companheiros de serviços, é homem trabalhador. Tem as faces encovadas e tristes. O corpo, amorenado de sol, mostra algumas cicatrizes dos acidentes de que tem sido vítima , no seu penoso mourejar diurno.
Sobre o casario branco de Itaúna, alvejar  a expressão ascética da Nova Matriz, é preciso que nosso pósteros se lembrem de que aqueles alicerces, aquelas paredes, foram argamassa  das também com o suor e o sangue desses heróis anônimos do trabalho ...


Fonte: Jornal de Itaúna, Ano I, 12 de fevereiro de 1933, nº 29.
Pesquisa: Charles Aquino
Acervo: Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira - ICMC

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